45 anos de Taxi Driver: Um clássico de Martin Scorsese sobre a solidão!

45 anos de Taxi Driver: Um clássico de Martin Scorsese sobre a solidão!

Em um dia como hoje, 79 anos atrás, nascia o diretor norte-americano Martin Scorsese. Para muitos o maior cineasta vivo, Scorsese teve sua carreira completamente alavancada com um determinado filme que, em 2021, completa 45 anos de seu lançamento original: Taxi Driver, de 1976. Carregando o status de uma das obras mais influentes e queridas do cinema moderno, Taxi Driver, assim como o seu diretor, foi um dos maiores expoentes do movimento cinematográfico que ficaria conhecido como A Nova Hollywood, onde, no final dos anos 60 e no decorrer dos anos 70, após décadas de limitações advindas do Código Hays de censura, os cineastas da época se viam com mais liberdade para explorar temas mais brutais e com forte teor crítico social. Como resultado, além do longa aqui em questão, tivemos outras obras atemporais, como Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas (1967), de Arthur Penn, e O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola.

Martin Scorsese

Estrelado por Robert De Niro, na época um astro em ascensão que já havia colaborado previamente com Scorsese em Caminhos Perigosos (1973), o filme nos apresenta a Travis Bickle (De Niro), um perturbado veterano da Guerra do Vietnã que, por estar sofrendo de insônia, decide se tornar motorista de Taxi na cidade de Nova York madrugadas adentro. Passando pelas ruas e observando a movimentação da cidade de dentro do seu Taxi, Travis se sente enojado com aquilo que vê. Como ele mesmo descreve, “Todos os animais saem a noite: Prostitutas, sodomitas, Drag Queens, gays, maconheiros, viciados, insanos e corruptos. Um dia uma chuva de verdade virá e lavará toda essa escória das ruas.”

Pôster do filme

Um dos destaques e tópicos mais debatidos em relação ao filme são justamente os temas abordados nele, onde, dois dos principais são a solidão e o descaso da sociedade com os indivíduos que vivem a sua margem. Travis Bickle é a ilustração perfeita dessa temática. Ao longo das duas horas de duração do filme, o que acompanhamos é, na verdade, um dos maiores estudos de personagem já apresentados para o público na história do cinema. Travis é um antissocial perturbado, que demonstra não possuir nem sequer muita noção sobre como se comportar em uma sociedade, chegando ao ponto de levar Betsy (Cybill Shepherd), a bela moça por quem ele se sente atraído, a um cinema pornô em um encontro. Em outra ocasião, o auge da sua revolta com o contexto em que ele está inserido, se dá no encontro com a jovem prostituta Iris (Jodie Foster), quando, em uma noite, ela entra em seu carro no meio de uma discussão com Sport (Harvey Keitel), seu cafetão. A partir daqui, Travis está decidido a se tornar um justiceiro e limpar a cidade de tudo aquilo que ele considera que a corrompe.

Scorsese é perfeito em nos convidar a embarcar nas loucuras e obsessões de Bickle. Aquela realidade da Nova York de meados dos anos 70, nos é apresentada pelo cineasta a partir do ponto de vista do seu protagonista. Conforme ele dirige seu Taxi, a câmera do diretor passeia pelas calçadas e ruas de Manhattan, alternando com as reações de Travis a passageiros que embarcam e desembarcam de seu veículo e tudo aquilo que ele enxerga ao seu redor. Pelas lentes de Scorsese, acompanhamos também todo o processo de preparo de Travis em sua insana e solitária jornada de justiceiro. Enquanto ele pratica exercícios físicos, treina o uso de armas de fogo e escreve o seu diário, Scorsese, como o grande diretor que é, passeia pelo pequeno apartamento onde o personagem mora, apresentando os acontecimentos ao seu espectador da forma mais detalhada possível, para que nós possamos compreender a mente de seu protagonista por completo.

Travis e seu olhar perturbado sobre a realidade que o cerca.

Nesse ponto, vale ressaltar também o excelente trabalho de Paul Schrader no roteiro. Os diálogos escritos para Travis, principalmente os de seu diário, são assertivos em nos apresentar o que passa na cabeça do solitário veterano (que, segundo alguns críticos, talvez nem veterano de guerra seja, com isso tratando-se apenas de mais uma de suas loucuras), deixando claro a dualidade desse personagem, que enxerga a si mesmo como um herói, mas que, para nós, o público, e todos a sua volta na película, vêm a ser um anti-herói ou, até mesmo, um vilão propriamente dito. “Ouçam, seus idiotas. Aqui está um homem que não aguenta mais. Um homem que se levantou contra a escória, as prostitutas, os cachorros, a sujeira, a merda. Aqui está um homem que se levantou.”- afirma Travis, em um dos trechos mais icônicos do diário que ele escreve ao longo da projeção.

Além de Schrader, que ainda viria a colaborar com Scorsese em Touro Indomável (1980), também é importante destacar a magnífica trilha sonora composta por Bernand Hermann, em seu último trabalho em vida. Um dos maiores compositores da história do cinema, compondo temas icônicos, como o de Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, sua trilha sonora mistura elementos de Jazz e Música Clássica com maestria, alternando entre momentos melancólicos e sombrios para criar todo o clima de suspense na história de Travis Bicke e suas consequências trágicas.

Conhecido por sua dedicação aos papéis, para o filme, Robert De Niro, inclusive, chegou a tirar licença para ser de fato taxista. Além disso, uma das cenas mais famosas de Taxi Driver, e de toda a história do cinema, é a do icônico monólogo “Você está falando comigo?”, dita por Travis enquanto pratica o uso de suas armas em frente ao espelho. Muitos não sabem, porém, essa cena não estava no roteiro original. Trata-se de um improviso genial do ator. Depois do filme, ele se tornaria colaborador frequente de Scorsese, protagonizando obras também aclamadas como Touro Indomável (1980), O Rei da Comédia (1983) e Os Bons companheiros (1990). Além de De Niro, merece destaque também Jodie Foster no papel de Iris, a jovem prostituta que Travis está decidido em salvar dessa vida. Na época, a atriz possuía apenas 13 anos de idade, o que levou até mesmo a um receio de que a produção pudesse afetar sua saúde mental. Ela mesma conta que De Niro foi essencial para ela durante esse processo. Depois daqui, ela estabeleceu uma vitoriosa carreira tanto como atriz, quanto como diretora. 

“Com quem mais você poderia estar falando?”

Assim como muitas obras da magnitude de Taxi Driver, ainda mais aquelas que abordam temas “sombrios” e possuem violência explícita e exacerbada , o filme também gerou polêmicas. Em 1981, um fã obcecado por Jodie Foster tramou um assassinato ao então presidente norte-americano Ronald Reagan, na tentativa de chamar atenção da jovem atriz. John Hinckley Jr. conta que, para isso, ele se inspirou em Taxi Driver. Na trama do longa, Travis Bickle planeja matar Charles Palentine, um candidato à presidência dos Estados Unidos cuja assessora trata-se de ninguém mais, ninguém menos que Betsy, a bela moça que o rejeitou por conta do encontro no cinema pornô.

Apesar de qualquer polêmica, o legado e influência de Taxi Driver na indústria é inegável. Para pegarmos um exemplo recente e popular, podemos citar o próprio Coringa vivido por Joaquin Phoenix no filme de 2019, cujo diretor, Todd Philips, jamais escondeu em entrevistas as influências do filme de Scorsese na sua obra. 45 anos atrás, o mundo era apresentado a uma das maiores histórias já vistas na história da sétima arte. No final da projeção, o destino de Travis é deixado em aberto, com a possibilidade de cada um dos espectadores tirarem suas próprias conclusões, algo que é melhor que assim continue, sendo mais um charme de um filme atemporal e que não pede por uma conclusão exata de sua história. Revisitar Taxi Driver é relembrar que Scorsese já havia nos alertado sobre os perigos e consequências da exclusão social e da solidão. Que venham os próximos filmes de um cineasta que não demonstra sinais de cansaço daquilo que sabe fazer de melhor!

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