Crítica: Com Cate Blanchett brilhante, TÁR é estudo de personagem profundo sobre as consequências da obsessão.

Crítica: Com Cate Blanchett brilhante, TÁR é estudo de personagem profundo sobre as consequências da obsessão.

Passados mais de quinze anos desde a sua última realização (o longa Pecados Íntimos, de 2006) o diretor e roteirista Todd Field está de volta aos cinemas com TÁR (terceiro longa-metragem de sua carreira, que teve início no ano de 2001 com Entre Quatro Paredes). Uma experiência focada em adentrar no “universo” particular de um(a) personagem intrigante (bem como tantas outras das mais prolíferas do cinema, de Cidadão Kane a Taxi Driver), o filme concorre em seis categorias dos prêmios Oscar de 2023, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.

Estrelado por Cate Blanchett, que também se encontra indicada ao Oscar de Melhor Atriz desse ano por seu desempenho no filme, TÁR narra a história fictícia de Lydia Tár, uma renomada maestrina e compositora de personalidade extremamente fria e egocêntrica. Dona de uma carreira irretocável, Lydia é a primeira diretora musical feminina da Orquestra Filarmônica de Berlim e agora está determinada a realizar uma gravação ao vivo da Sinfonia nº 5 do compositor Gustav Mahler. Entretanto, seu comportamento e suas metodologias questionáveis em relação a sua vida pessoal e profissional acabarão por gerar consequências que ela talvez não imagine.

Primordialmente, TÁR é concebido como um complexo e profundo estudo de personagem sobre uma mulher tomada pela obsessão por sua própria arte e trabalho. Estando disposta, nesse contexto, a realizar qualquer tipo de ação que, em um primeiro momento, a beneficie. Em outras palavras, Lydia Tár é uma “jogadora” prestigiada e influente, que manipula as peças do jogo o qual encontra-se inserida (aqui especificamente a realidade dos envolvidos com a música clássica/erudita) a seu bel prazer, independente de consequências extremas que isso possa acarretar para os outros e para si mesma- como é o caso do suicídio repentino de uma pessoa próxima e de uma gravação manipulada de uma de suas aulas que se torna um viral nas redes sociais, capazes de destruir por completo sua reputação.

Sendo assim, se em Amadeus (1984), uma fictícia cinebiografia de Mozart e sua relação doentia com o seu rival Antonio Salieri, a longa duração do filme se consolidava muito por conta do investimento por parte do diretor Miloš Forman em segmentos musicais extensos, em TÁR, Todd Field opta por seguir um caminho quase que contrário. Aqui, as sequências focadas na música em si estão inseridas na narrativa de forma pontual nas quase três horas de filme, com o diretor norte-americano estando, na maioridade do tempo, focado na construção da personagem de Blachett por meio de diálogos e situações cotidianas que adentram a fundo em sua personalidade e psique. Sobretudo, seu dia a dia muitas vezes afastado de sua família, as constantes reuniões e encontros profissionais, os minuciosos ensaios da sinfonia de Mahler e sequências de delírios e pesadelos a medida que acompanhamos a sua decadência.

Dado esse escopo, Todd Field rege os acontecimentos de TÁR, especialmente na parte incial, por meio de longas sequências de conversas e trocas entre os personagens- elaboradas por meio de planos sequência mais longos e com poucos cortes, que acabam dando um ritmo menos dinâmico e muitas vezes massivo aos acontecimentos. Porém, é quando a sua decupagem decide lidar com Blanchett de forma mais direta e isolada, como nas sequências de regência da orquestra e dos delírios pisicológicos de sua personagem, que o filme alcança seus melhores momentos, já que Field consegue extrair ao máximo as nuances da performace da atriz australiana. Brilhante, por sua vez, em trazer à vida essa mulher marcada pela prepotência e que, mais tarde, se vê pertubada por suas próprias atitudes.

Em síntese, TÁR pode ser visto como um longa de várias camadas, indo das consequências da busca incessante por poder e influência, às relações abusivas de subordinação em ambientes artísticos e profissionais como um todo e os perigos envolvidos em informações propagadas pelas mídias sociais. Tudo isso no contexto da queda de uma mulher que antes gozava de um status colossal e, na parte final da projeção, se vê forçada a um revisionismo à sua própria persona em busca de se reencontrar e se reconectar com a sua arte e consigo mesmo.

Coroado por uma atuação de gala de sua protagonista, não será nada de tão inesperado caso Cate Blanchett conquiste o terceiro Oscar de sua carreira no próximo dia 12 de março.

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