Diferentemente de sua realização anterior, A Crônica Francesa (2022), um claro tributo ao jornalismo; de O Fantástico Sr. Raposo (2012), um carismático stop motion sobre família e sobrevivência; ou de Moonrise Kingdom (2012), um simpático romance adolescente Coming of Age, em Asteroid City, Wes Anderson (O Grande Hotel Budapeste) parece não estar tão determinado a atacar um tópico específico de forma mais objetiva, entregando um dos seus filmes mais “abertos” sob o ponto de vista temático.
Dividida em duas passagens principais, na trama de Asteroid City, paralelamente ao processo criativo de seus idealizadores, somos apresentados à encenação de uma peça intitulada ‘Asteroid City‘. Situada nos anos 1950 em uma cidade fictícia do deserto norte-americano, nela acompanhamos uma convenção organizada para unir um grupo de alunos e pais em uma competição acadêmica. Entretanto, uma situação peculiar envolvendo vida extraterrestre faz com que o caos se instaure na comunidade.
Ao confinar e nos apresentar a um grupo heterogêneo de pessoas em um ambiente e situação específicos, a falta de um foco ou de um cerne de fácil identificação logo de primeira pode até causar estranheza inicial nos espectadores. Entretanto, quando Hall, personagem de Jason Schwartzman, em um momento de autoconsciência do longa, abandona o seu personagem na peça (um fotógrafo recém viúvo) para confrontar o personagem de Adrien Brody (o diretor da peça) sobre do que realmente se trata o espetáculo, é que uma certa ideia passa a fazer mais sentido em Asteroid City.
Nesse momento, os espectadores são como Schwartzman. E se a resposta do diretor para o seu questionamento é para que ele apenas continue a interpretar seu personagem da mesma maneira, para nós, consequentemente, basta seguirmos a testemunhar o retrato de Anderson daquela realidade e seus núcleos narrativos.
Asteroid City é, então, sobre as inúmeras possibilidades que habitam um trabalho artístico. Desde um caso amoroso entre um fotógrafo e uma atriz; à paranoia com relação a existência de vida alienígena que rondava a sociedade americana dos anos 50 em meio a corrida espacial da guerra fria; jovens tendo suas habilidades exploradas por instituições governamentais; e os desafios do processo criativo de um artista, todos esses são assuntos abordados por Wes Anderson em seu novo filme.
E é claro que o rigoroso estilo do cineasta mais uma vez se faz presente. Aqui, sua mise-en-scène escancara também a pluralidade das linguagens, sobretudo, do teatro e do cinema, com uma direção de arte que exala um tom artificial nos cenários e nas cores pastéis marcantes, e com um emprego de planos fixos bem calculados, de contra-plongés para enquadrar os personagens, de movimentos de câmera rápidos ou mais lentos que revelam para o espectador nuances e detalhes dos ambientes, e até um clássico Efeito Vertigo (ou Dolly Zoom) que nos leva para dentro de uma sensação mental de um personagem em determinado instante.
Assim, o todo pode até não ser dos mais memoráveis da filmografia do diretor, mas é provável que cada um interprete Asteroid City a sua própria maneira ou que se identifique mais com certo aspecto do filme que outro. E é justamente a partir disso que prevalece a reflexão sobre a pluralidade de feitos artísticos tecidos com carinho pelas mentes por trás de suas realizações.
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