Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza 2023 e parte da seleção internacional do vigésimo quinto Festival de Cinema do Rio, “Pobres Criaturas” é a nova realização do cineasta grego Yorgos Lanthimos, que, após alcançar popularidade global nos últimos anos por filmes como “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017) e “A Favorita” (2018), realiza esse que remete diretamente a Frankenstein, de Mary Shelley, ao contar a história de Bella (Emma Stone), uma jovem que é trazida de volta à vida por meio de um experimento do cientista Godwin Baxter (Willem Dafoe).
Desde os primeiros minutos de filme a completa estilização da linguagem chama atenção. E se em outros longas do diretor essa “hiperestilização” poderia soar como um exibicionismo gratuito, em “Pobres Criaturas” ela parece fazer mais sentido. Afinal, esse é um mundo de indivíduos “distorcidos”, e a ideia de Lanthimos, com isso, é propor uma realidade deturpada, com uma mise-en-scène que, sustentada pela peculiaridade, estabelece uma realidade fantasiosa bastante específica.
“Pobres Criaturas” parece, então, um conjunto de estímulos pensados para despertar a atenção dos espectadores. E são inegáveis os efeitos encontrados no preto e branco da parcela inicial; nas cores de saturação alta de certo ponto em diante; na triha sonora de acordes desajustados; e nos movimentos de câmera e lentes peculiares utilizadas por Lanthimos- sobretudo a chamada lente “olho de peixe”, cujo a utilização de forma repetitiva, aqui, é um pouco menos exaustiva e faz mais sentido do que em “A Favorita“.
Toda essa pluralidade serve para que, por meio da jornada da personagem de Emma Stone– brilhante ao dar vida a Bella e sua carência de certa racionalidade, o texto de Lanthimos debata os limites do ser humano enquanto ser sexual. Não à toa, a virada de chave de Bella é a descoberta do prazer pela masturbação, e o envolvimento com o garanhão Duncan Wedderburn (Murk Ruffallo), em que ambos embarcam em uma busca incessante pela sexualidade, pavimenta uma jornada de amadurecimento da protagonista- que no lugar de um andar desajeitado da primeira parcela de projeção, ao final, já é capaz de caminhar em normalidade.
E se o ser humano é abordado sob essa ótica “freudiana” da sexualidade, o lado empírico também prevalece- com momentos por vezes singelos (como o que Bella observa uma cantora de fado e o encontro súbito com o tripulante de um navio maltratando uma ave) sustentando essa construção. Afinal, são as experiências de Bella enquanto indivíduo livre (envolvendo até prostituição em alguns dos momentos mais bizarros e hilários de “Pobre Criaturas“) que a conduzem não só a sua evolução natural, como também a um conflito sobre a verdadeira natureza da sua existência na parcela final do longa.
Podendo também ser enxergado sob um olhar feminista de uma mulher buscando por sua liberdade, “Pobre Criaturas” é um filme de muitas camadas. E essa pluralidade, que se reverbera de forma abrangente pela realização, torna em inegavelmente instigantes os esforços criativos de Yorgos Lanthimos e cia.
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