A riqueza de conceitos e detalhes do universo de Duna, criado pelo escritor Frank Herbert, é algo incontestável. E não falta compreensão a respeito disso por parte do longa-metragem homônimo do cineasta Denis Villeuneve (‘A Chegada’, ‘Blade Runner 2049’) lançado em 2021. Nele, uma primeira parte das adaptações planejadas pelo franco-canadense, tudo parecia pensado para estabelecer uma contemplação à grandiosidade daquele mundo. Entretanto, por vezes todo esse fator épico parecia distante demais do público e muito “cinza”. Mesmo que a textura bege onipresente das imagens fosse pensada para transmitir a aridez do planeta Arrakis, muitos dos acontecimentos soavam vazios por trás de uma casca tecnicamente exuberante.
Passada a apresentação desse universo no primeiro filme, nessa segunda etapa da história acompanhamos a jornada de Paul Atreides (Timothée Chalame) assumindo de fato a liderança como um messias do povo Fremen na luta contra o domínio dos Harkonnen em Arrakis. Dito isso, em ‘Duna: Parte II’, Denis Villeuneve parece naturalmente almejar com que a contemplação ao épico puramente fique um pouco de lado, aproximando mais o espectador desse universo e das peças do seu tabuleiro.
E isso não significa que, no filme, o fator épico seja abandonado. Longe disso. Mas esse novo Duna é um longa que entra mais a fundo na mitologia dessa narrativa, dos Fremen aos Harkonnen, sendo muito mais um longa-metragem sobre e com bastante tempo de tela dedicado a diálogos, gestos e ações que evidenciam detalhes de crenças e rituais desses polos da história.
Nisso, até a encenação de Villeuneve é mais intimista em diversos momentos. Aqui, por meio de enquadramentos mais fechados, a câmera do diretor se posiciona mais próxima do que vemos, apostando em close-ups constantes nos rostos do seu elenco e em alguns planos detalhe nas mais variadas ocasiões que envolvem tais situações ritualísticas específicas.
O grande problema do primeiro filme, entretanto, de certa forma ainda está presente em alguns aspectos da continuação. Por mais que haja essa aproximação, sobretudo no início da projeção ainda é possível de nos sentirmos distantes dquilo que é grandioso e até dos personagens. Por exemplo: no beijo de duas figuras centrais ou então em uma conquista fundamental de Paul Atreides logo em seguida, apesar de mais um vez a técnica de Denis Villeuneve e cia. nos visuais, acompanhada da trilha sonora de Hans Zimmer, estontearem olhos e ouvidos dos espectadores, tais sequências são, no fundo, difíceis de despertar uma empatia ou conexão mais genuína.
Felizmente, esso lado da obra melhora quando o diretor parece apostar numa intensidade alicerçada por um fator humano- sobretudo as atuações do seu elenco em certas passagens. Mais uma vez refletindo a questão da importância em gestos e rituais, alguns dos momentos que mais causam comoção são os relacionados a ascensão de Paul como o missionário dos Fremen na busca de um “Paraíso” e no surgimento de Feyd-Rautha (Austin Butler) como liderança entre os Harkonnen. Seja em um discurso inspirado de Atreides para o seu povo ou em uma luta selvagem de Rautha contra três oponentes simultaneamente, a dupla Chalamet e Butler entrega interpretações pulsantes, despertando em quem os assiste o entusiasmo por um herói e a ojeriza por um vilão de forma certeira.
Assim, é quanto a isso que ‘Duna: Parte II’ mostra potencial de fato. Daqui pra frente, quando Dennis Villeuneve propõe uma luta corpo a corpo e o início de uma guerra com uma batalha iluminada por um belo pôr do sol ou pelas luzes intensas de explosões, estamos mais propensos a de fato enxergar a jornada de Paul Atreides de forma mais orgânica. O universo de Frank Herbert, então, pode ainda não parecer perfeito, mas se demonstra consideravelmente mais tangível por meio dessa aproximação.
Leave a Reply