Bruce Willis está sofrendo de uma doença que o forçará a se aposentar. Por isso, fica aqui uma homenagem!
“Nove milhões de terroristas no mundo e eu tenho que matar logo um com os pés menores que os da minha irmã”
John McLane (Bruce Willis)
Uma notícia triste abalou o mundo do cinema ontem. Em um comunicado oficial, divulgado por sua família, o ator Bruce Willis anunciou que está se afastando das atuações por problemas de saúde. Ele está sofrendo de afasia, uma condição que afeta a capacidade do indivíduo de se comunicar, seja pela fala ou pela escrita. Willis é, inegavelmente, um dos principais astros do cinema americano. Conhecido por seus trabalhos em longas como Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), de Quentin Tarantino, e por sua parceria com o cineasta M. Night Shyamalan, com quem ele trabalhou nos bem-sucedidos O Sexto Sentido (1999) e Corpo Fechado (2000), foi no cinema de ação, porém, que ele viria a se consagrar. Principalmente, pelo seu papel como o policial John McClane, na franquia Duro de Matar, uma das mais importantes e influentes do cinema de ação.
Lançado em 1988, o primeiro Duro de Matar, como dito, foi um marco na carreira de Bruce Willis. Pelo filme, o ator recebeu um cachê de 5 milhões de dólares, um valor consideravelmente alto para a época, e se estabeleceu de vez como astro do cinema hollywoodiano. Antes do longa, por incrível que pareça, o ator era famoso por seus papéis em comédias. Na verdade, enquanto ele filmava o primeiro filme da franquia, também atuava na série A Gata e o Rato, o seu trabalho mais lembrado no gênero e que lhe rendeu, inclusive, um Emmy de Melhor Ator em Série de Comédia. O programa, que foi ao ar entre 1985 e 1989, contava a história de uma dupla de detetives vividos por Willis e pela atriz Cybill Shepherd. Na época, em um ritmo igualmente frenético aos acontecimentos de Duro de Matar, ele gravava a série no período da manhã e o filme no período da noite.
Na trama do filme, o policial John McClane (Willis) está vindo de Nova York para passar as festividades de final de ano (e lá vem as teorias de que Duro de Matar é um filme de Natal…) com Holly, sua esposa, na cidade de Los Angeles. Porém, seus planos mudam drasticamente de perspectiva quando o prédio onde Holly trabalha, o luxuoso arranha-céus Nakatomi Plaza, é atacado por um grupo de terroristas alemães, que buscam roubar 640 milhões de dólares. A partir daqui, McClane, então, protagoniza um jogo de gato e rato com os terroristas, enfrentando sozinho o grupo liderado por Hans Gruber, vilão interpretado por Alan Hickman (o professor Snape de Harry Potter) em seu primeiro papel no cinema.
Baseado em um livro chamado “Nothing Lasts Forever“, de Roderick Thorp, o roteiro do filme foi assinado Steven E. Souza e Jeb Stuart. Já a direção, ficou nas mãos de John McTiernam, que, um ano antes, já havia realizado o longa O Predador (1987), estrelado por Arnold Schwarzenegger. Não seria exagero classificar McTiernam como um dos maiores diretores de ação da história. Em Duro de Matar, todas as situações são comandadas com maestria por ele. Ao invés de explosões grandiosas, gratuitas e desprovidas de qualquer impacto emocional genuíno, o filme é recheado de momentos memoráveis, prendendo seu espectador do início ao fim. O cineasta é capaz de despertar até mesmo sentimentos de vertigem e claustrofobia nos mais variados momentos de tensão que são apresentados em cena, como as icônicas sequências no tubo de ventilação e o salto realizado por McLane agarrado na mangueira de emergência.
Porém, Duro de Matar não é uma realização louvável somente por conta de seus méritos no âmbito da ação comandada com primor por seu diretor. Um dos grandes pontos positivos do longa-metragem é, além disso, a forma como que o roteiro de Souza e Stuart e a própria direção de McTiernam abordam a figura do herói clássico dos filmes de ação, gênero de muito êxito ao longo da década de 80. Em detrimento das vistas em outras famosas realizações anteriores do gênero, como aquelas estrelados por Sylvester Stallone e pelo próprio Schwarzenegger, a caracterização do personagem de Willis, nesse contexto, é a de um “brucutu” de ação muito mais humano e com quem o público consegue se relacionar. E isso não significa um demérito para os personagens dos dois astros citados anteriormente, já que, presenciar as loucuras realizadas por ambos sempre foi um exercício lúdico irresistível.
Além disso, o personagem de McClane claramente bebe muito na fonte de seus predecessores. Afinal, ele também é, de fato, um exército de um homem só em sua luta contra os terroristas. Porém, diferentemente do John Rambo, de Stallone, e do John Matrix, de Schwarzenegger, na icônica franquia Rambo e no longa Comando para Matar (1985), respectivamente, que são apresentados ao público como veteranos de guerra frios, calculistas, durões, imbatíveis e quaisquer outros adjetivos do gênero que aqui se encaixam, em diversos momentos do filme, McLane é um personagem que se permite demonstrar suas fragilidades. Ele sangra, se machuca, se irrita, se cansa e sente até receio em realizar certas peripécias que são difíceis de imaginar Rambo e Matrix cogitando qualquer tipo de hesitação.
São detalhes sutis, que podem até passar despercebidos em certos momentos, que colaboram para estabelcer essa ideia. Logo na cena de abertura do filme, por exemplo, é apresentado ao público o fato de McLane sofrer com medo de andar de avião. Mais tarde, “Deus, por favor, não permita que eu morra“, afirma o personagem, na tensa sequência em que ele realiza o supracitado salto no arranha-céus utilizando uma mangueira. Até mesmo os seus pés descalços na maior parte da projeção ajudam a construir essa ideia, já que, em determinado momento, resultam em um ferimento grave do herói na caça aos terroristas. Assim, somando todas as suas “falhas” e o notável esforço do policial para derrotar os vilões, como resultado final, ao invés de se manter imponente diante da vitória, como se tudo aquilo que passou não fosse nada muito fora do normal, o personagem de Willis está exausto por conta de sua esforçada empreitada de derrotar os terroristas sozinho.
Em todo esse êxito, Bruce Willis em si não poderia deixar de ser ressaltado. É inegável que muitos dos personagens vividos por Schwarzenneger, Stallone, Jean-Claude Van Damme e Chuck Norris, por exemplo, são figuras carismáticas. Porém, em alguns casos, há de se convir que, em termos de entrega dramática propriamente dita, nem sempre eles são os melhores nisso. Aqui, Willis é perfeito em sua função. Além de também ser um ator muito carismático, ele é certeiro em trazer tanto o tom mais bem-humorado e sarcástico estabelecido para o protagonista, quanto na expressividade e postura necessárias para dar vida a esse herói vulnerável e humano.
Assim, apesar do tom da franquia ter sido alterado consideravelmente nas suas sequências para dar lugar a algo cada vez mais “tradicional”, o primeiro Duro de Matar se mantém até hoje como um divisor de águas para a indústria e um dos filmes de ação mais importantes da história. É triste a notícia da aposentadoria precoce de Bruce Willis. Mas é inegável que seu legado já está eternizado na sétima arte, tanto nessa, quanto em outras realizações suas como um todo. Força, Bruce!
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