A ATEMPORALIDADE DE V DE VINGANÇA!

A ATEMPORALIDADE DE V DE VINGANÇA!

“Lembrem-se, lembrem- se, do 5 de novembro”. Lançado em 1988, V de Vingança é uma das maiores histórias em quadrinho de toda a categoria. Escrita pelo lendário autor da nona arte Alan Moore e desenhada por David Lloyd, a obra, muito mais do que apresentar uma máscara que ficaria famosa mundialmente, entregou para o mundo uma ideologia e uma aula de história por trás desse mesmo rosto sorridente usado pelo protagonista da história.

O autoritarismo e suas consequências é um tema que ao longo do século XX foi bem explorado por muitas obras literárias. Um dos maiores exemplos é o escritor George Orwell e seus imortais e influentes romances que exploram o tema a fundo, A Revolução dos Bichos, de 1945, e 1984, lançado em 1949 (muito influente para o quadrinho aqui em questão). Já nos quadrinhos, V de Vingança é um dos exemplos perfeitos dessa temática (acompanhado de MAUS, de Art Spiegelman, mas esse é assunto para outro artigo….).

V de Vingança foi lançado em uma época em que as histórias em quadrinho passavam por uma mudança significativa, se provando uma arte que, se antes era vista como veículo destinado somente para crianças, agora podia abordar temas políticos e adultos. Na trama, situada em uma Inglaterra de uma realidade alternativa, um partido totalitário ascende ao poder após uma guerra nuclear que gerou uma crise e instabilidade muito grande no país. Controlando a mídia, implantando um sistema de monitoramento da população e perseguindo minorias, esse novo governo ganha um oponente: “V”, uma misteriosa figura que veste uma máscara estilizada de Guy Fawkes. Ele planeja uma elaborada derrubada ao governo, inspirada na chamada Conspiração da pólvora do início do século XVII, onde Fawkes foi figura chave na tentativa de destruição do parlamento inglês.

A obra é uma verdadeira aula de história. Ao nos situar em uma Inglaterra pós um conflito nuclear, o país vive uma crise e desespero por parte da população. É nesse contexto que ganha popularidade um líder e suas promessas de resolver as instabilidades vigentes na nação. Ganhando cada vez mais apoio, esse novo governo chega ao poder, tornando-se mais autoritário com o tempo e se assemelhando as ditaduras fascistas que o mundo conheceu na realidade no século XX após a Primeira Guerra Mundial. É assim então que V de Vingança nos mostra como é o caminho seguido para a ascensão de ideologias autoritárias ao poder, com o característico apelo popular em momentos de crise e instabilidade. Para provar esse ponto, bastaríamos fazer comparações com casos reais em nossa história.

Além disso, consequentemente, o quadrinho de Moore e Lloyd também explora como tema central as cicatrizes deixadas pelas ditaduras autoritárias. Em determinado momento, nos é revelado que (Atenção: Spoiler da trama a seguir) o protagonista é um homem que passou por experiências traumáticas em um campo de concentração e esse torna-se um dos motivos centrais de sua ideologia anarquista e de derrubada do estado autoritário que abusou dele. Na trama, ele conhece uma moça órfã chamada Evey. Adotando-a como uma espécie de aprendiz, em determinado momento (um dos mais icônicos da obra) ele faz com que a jovem passe por uma experiência semelhante com a dele. É assim que o leitor da obra se transforma em Evey, sendo esse então o modo em que os autores nos fazem presenciar e compreender quem é “V” e quais são algumas das piores consequências do autoritarismo para as pessoas.

V na adaptação para os cinemas de 2005.

V de Vingança foi um sucesso muito grande e, como dito, é um dos mais aclamados e influentes quadrinhos da história. Em 2005, foi lançada a sua adaptação cinematográfica, estrelada por Hugo Weaving como o protagonista e Natalie Portman como Evey. Além disso, a máscara inspirada no rosto de Guy Fawkes se tornou símbolo do famoso grupo hacker Anonymous. Essa é uma obra visionária, atemporal e mais um exemplo perfeito de como a Cultura Pop e as artes em geral servem como um veículo de assuntos “sérios” e reflexão da nossa realidade. Por trás da máscara, existe mais do que um rosto. Existe uma ideologia.


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