Crítica — “Alien: Romulus” se garante no retorno ao suspense e ao horror clássico que consagrou a franquia 

Crítica — “Alien: Romulus” se garante no retorno ao suspense e ao horror clássico que consagrou a franquia 

Desde que fez sua estreia nos cinemas em 1979 com “Alien: O Oitavo Passageiro”, de Ridley Scott, a franquia Alien passou por altos e baixos — por vezes mais baixos do que altos. Dirigido por James Cameron, “Aliens: O Resgate”, sequência do filme de Scott lançada em 1986, foi um acerto. Ainda nos anos 90, Alien 3 (1992) e Alien: A Ressureição (1997), entretanto, já indicavam um possível cansaço da franquia. Na última década, as tentativas de reviver a saga pelo próprio Scott com “Prometheus” (2012) e “Alien: Covenant” (2017), foram recebidas com desprezo pela maior parte da crítica e dos fãs. 

Se reinventar ou buscar um retorno ao equilíbrio, nesse contexto, é um desafio. Após a compra da FOX pela Disney em 2019, um novo filme foi anunciado com a promessa de colocar as coisas nos eixos. “Alien: Romulus”, comandado pelo uruguaio Fede Álvarez (antes responsável pelo revival de Evil Dead, lançado em 2013) é a produção que chega aos cinemas em 2024 carregando essa reponsabilidade. 

Protagonizado por Cailee Spaeny (elogiada anteriormente por papéis em “Prsicilla” e “Guerra Civil”), o filme narra a história de um grupo abordo de uma nave espacial que logo se vê encurralado pelos tão aterrorizantes monstros da franquia: Face Huggers, Xenomorfos, etc. 

Rain, a personagem interpretada por Spaeny, nesse contexto, servirá como a típica heroína que a icônica Ellen Ripley de Sigourney Weaver fora no longa de 1979: destemida, persistente e ao mesmo tempo vulnerável ao ponto da audiência conseguir criar uma conexão genuína com sua figura. Para além da sinopse, esse é um dos indicativos daquilo que talvez seja o grande acerto de “Romulus”.

Simples e direto, a ideia do longa é retornar a algo mais próximo do filme original de 79, já que Fede Álvarez faz desse um filme que se sai bem em uma abordagem clássica de se fazer terror e suspense.

Seus pontos altos são justamente os inúmeros embates entre as criaturas e os personagens. Além disso, o silêncio absoluto do espaço contrasta com ruídos e com a trilha sonora tensa de outros momentos. As luzes e as sombras bem demarcadas tomam conta dos ambientes, enquanto os movimentos da câmera do uruguaio na ação são ágeis e os planos abertos chegam para valorizar a escala das sequências no espaço.

Álvarez também se demonstra assertivo em valorizar o lado mais Trash e os elementos de Body Horror que fazem parte da franquia. O filme não chega a trabalhá-los de forma extremamente explícita, mas faz questão de impactar a audiência com uma decupagem que nutre apreciação por certos detalhes, seja nos ataques dos Face Huggers ou na criatura Alien em si — retratados de uma forma muito mais violenta para as vítimas ou com inúmeros planos detalhe que fazem questão de ressaltar seus aspectos mais repulsivos. 

Para a concepção do universo e de seus novos personagens, há uma mistura interessante dos elementos de “Blade Runner: O Caçador de Androide” (1982), outro sucesso de Ridley Scott, e até uma cara de “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1969), de Stanley Kubrick— sobretudo pela caracterização de uma sociedade decadente, onde trabalhadores buscam a fuga de uma vida injusta cercada pela exploração de uma grande corporação, e pelos efeitos práticos e o Design de Produção caprichados. 

Os personagens, aqui, não chegam a ser extraordinários, mas o androide Andy (David Jonsson) talvez seja o destaque para além da protagonista de Cailee Spaeny. Carregando consigo o dilema de uma inteligência artificial tratada como descartável que em determinado momento se vê com certa autonomia e autoridade, até a ótima performance de Jonsson lembra no tom de voz, na forma como se comporta e nos valores que acredita o computador Hal 9000 da obra-prima de Kubrick e o icônico Roy Batty de Rutger Hauer em Blade Runner.

No todo, “Alien: Romulus” abre mão dos devaneios criativos de Ridley Scott que marcaram “Prometheus” e “Covenant” em troca de algo mais seguro e que ao mesmo tempo não deixa de apontar para um possível futuro em sua parcela final. É inevitável que, com isso, certas ideias ainda pareçam previsívieis, principalmente na estrutura da trama e em certas resoluções. Porém, a forma como o cineasta uruguaio faz com que o longa funcione dentro daquilo que um bom filme de Alien tem a oferecer ainda se sobressaem para uma experiência satisfatória após tantas irregularidades. 


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