Vencedor de dois prêmios Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (o primeiro deles por “Hannah e suas Irmãs”, de 1987, e o segundo por “Regras da Vida”, lançado em 1999), Michael Caine está de volta à atuação. Em “A Grande Fuga”, o ator contracena e faz par romântico com Glenda Jackson. Também ganhadora de dois prêmios da Academia de Los Angeles (por “Mulheres Apaixonadas”, de 1969, e “Um Toque de Classe”, de 1973), a atriz faleceu em 2023, aos 87 anos. No filme, ela desempenha aquele que foi o seu último trabalho em vida. Caine, por sua vez, após ler o roteiro da obra, diz ter optado por largar a aposentadoria para um possível último papel. Atualmente, o ator está com 91 anos de idade.
É diante desse cenário, portanto, que a presença da dupla veterana em “A Grande Fuga” — que estreia nessa quinta-feira (27) nos cinemas brasileiros — se estabelece como um fator prévio de conexão do público com o longa. Sobretudo para aqueles que conhecem e sabem da importância de ambos na história da Sétima Arte.
“A Grande Fuga”, dito isso, é um filme simples em todos os sentidos. Na trama, acompanhamos a história real do britânico Bernard Jordan (Caine), um veterano da Segunda Guerra Mundial que, aos 89 anos de idade, decide escapar da casa de repouso em que vive ao lado da esposa (Jackson) para viajar até a França. Carinhosamente apelidado de Bernie, a intenção do veterano é participar de uma celebração dos 70 anos do “Dia D”, na Normandia. A data marcou uma importante vitória dos Aliados contra o Eixo em 1944.
A estrutura da narrativa, a partir dessa premissa, opta por espelhar presente e passado. No decorrer da projeção, Flashbacks do casal junto quando ambos eram jovens e de Bernie na Guerra são intercalados com os eventos do presente. Os contextos dos acontecimentos é claro que são diferentes, mas a situação não deixa de ser semelhante: tanto na Guerra, quanto na fuga da casa de repouso, Bernie deixa sua amada para trás para cumprir com um dever. Para ela, o que resta, a partir disso, é relembrar os seus momentos com o marido. Já para ele, essa jornada é a oportunidade de se curar do sentimento de culpa por conta de uma situação específica ainda da época do conflito.
A partir disso, então, “A Grande Fuga” se firma como um filme sobre as marcas da vida que prevalecem e a necessidade de se fazer as pazes com fatores e acontecimetos que estão além do nosso controle. O tema é estabelecido com bastante clareza pelo roteiro, muitas vezes sendo ilustrado de forma didática até demais pelos diálogos e pelas situações. Entretanto, se as figuras de Caine e Jackson já despertam a curiosidade prévia de alguns, a direção de Oliver Parker (“O Retorno de Johnny English”, 2011) faz com que eles sejam, de fato, o verdadeiro elo do filme para com a audiêcia.
Os planos detalhe do caminhar cuidadoso de Bernie; os planos fechados em suas mãos envelhecidas e em seu rosto de olhos marejados. Parker, aqui, usa e abusa de recursos para despertar nossa ternura com relação aos seus protagonistas. São muitos os momentos sentimentais, pensados justamente com a intenção de comover o espectador — como Caine enquadrado com um pôr do sol ao fundo, acompanhado por uma música de acordes melancólicos, ou uma conversa da personagem de Jackson com uma enfermeira, em que ela discursa sobre a necessidade de se aproveitar ao máximo cada momento da vida.
Algumas dessas sequências, dito isso, carecem de algum impacto mais profundo, como é o caso da grande revelação sobre a culpa de Bernie — um momento que, apesar de sua previsibilidade, soa econômico e básico demais. Porém, em outros, Parker faz com que seja agradável testemunharmos a dupla principal com tanta idade ainda nos emocionando. Ao que tudo indica, essa é a chance de um último adeus à Glenda Jackson e Michael Caine. Fica o agradecimento.
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