Crítica — Em “Clube dos Vândalos”, ascensão e queda da era de ouro dos motoqueiros perde o fôlego no meio, mas se recupera no final 

Crítica — Em “Clube dos Vândalos”, ascensão e queda da era de ouro dos motoqueiros perde o fôlego no meio, mas se recupera no final 

Histórias sobre motoqueiros não são grande novidade no cinema. “O Selvagem” (1953), com Marlon Brando; “Os Anjos Selvagens” (1966), de Roger Corman; “Sem Destino” (1969), um dos filmes inaugurais da “Nova Hollywood”; e “O Selvagem da Motocicleta” (1983), de Francis Ford Coppola, são exemplos de produções que eternizaram a imagem de rebeldia e caos geralmente associada a essas figuras masculinas.

Dito isso, enquanto os longas mencionados anteriormente funcionavam, na maior parte dos casos, como estudos de figuras específicas, “Clube dos Vândalos“, escrito e dirigido por Jeff Nichols (“Amor Bandido“, 2012), chega agora aos cinemas com uma proposta consideravelmente mais abrangente. Mesmo que focado em um contexto e grupo particulares, o longa pode ser lido como um relato geral sobre a ascensão e queda de uma “Era de Ouro” dos chamados Motoclubes nos Estados Unidos.  

O filme de Nichols é baseado em uma história real, registrada no livro “The Bikeriders“, onde o fotógrafo Danny Lyon por anos acompanhou o motoclube chamado “Vândalos”, de Chicago. A sua estrutura, nesse contexto, opta pela narração da personagem Kathy (Jodie Comer) como principal norte da narrativa. No tempo presente do filme, ela relembra por meio de flashbacks o período em que conviveu com Benny, um jovem motoqueiro rebelde que costumava ser um membro dos Vândalos nos anos 60.

A primeira parcela de “Clube dos Vândalos“, sendo assim, é um acerto em cheio. Enquanto Kathy é entrevistada por Lyon (interpretado no filme por Mike Faist), a apresentação e consolidação dos personagens, incluindo a sua própria e, principalmente, Benny e o fundador do grupo Johnny (Tom Hardy), equilibra um tom cômico muito bem-vindo para o decorrer dos acontecimentos.

A decupagem de Nichols, nesse contexto, almeja algo mais próximo de um cinema clássico. Ao lado de alguns momentos com uma iluminação mais sofisticada e com as cores mais quentes, os planos e contra planos com a câmera estática são predominantes. Esse universo e suas figuras tradicionais, com jaquetas de couro gastas e penteados típicos, são estabelecidos de maneira com que se sobressaia na encenação uma atmosfera retrô das produções da Hollywood dos anos 50.

Todos os personagens, nesse contexto, são bem consolidados dentro de algum arquétipo – sobretudo o trio protagonista. As expressões de sorrisos tímidos de Jodie Comer estabelecem Kathy como a jovem acanhada que troca um casamento e uma vida pacata por uma outra de maiores emoções ao se envolver com Benny. Interpretado por Austin Butler, Benny, por sua vez, é o típico rebelde por natureza. Com os trejeitos clássicos desse estereótipo e voz embargada, o personagem de Butler enxerga nas motos e na velocidade a essência de sua vida. Já o Johnny de Tom Hardy é o líder durão. O fundador do grupo se identifica com o personagem de Marlon Brando em “O Selvagem“, e tem sua principal motivação na vontade de reunir apaixonados por motocicletas como ele.

Entretanto, passada a introdução de tudo, “Clube dos Vândalos” é um filme que parece estagnado na sua proposta. Até mesmo a ideia da direção mais clássica de Nichols, de certo ponto em diante, passa a soar como falta de enstusiasmo ou uma mesmice sem muito fôlego. Apesar da violência mais explícita que choca o espectador, a estrutura episódica para relatar essa natureza problemática do estilo de vida dos Vândalos parece repetitiva – e a falta de liga entre certos acontecimentos torna difícil de enxergarmos um propósito maior almejado pelo longa. Os personagens e suas motivações também parecem apagados após estabelecidos – sobretudo a figura rebelde de Butler, que nunca prova a que veio de fato no decorrer da projeção.

Felizmente, a conclusão da história consegue dar algum sentido consistente para o arco dramático. Vemos a decadência do motoclube ser ilustrada por meio de um ciclo em que o novo chega para substiuir o velho. Nisso, a violência e o rompimento para com as leis são atingidos em níveis ainda maiores. A essência se perde junto com o líder. A ideia é levada para contornos antes não imaginados. A partir dessa decadência inevitável da “Era de Ouro”, cabe àqueles que restaram viverem para se lembrar e contar histórias. 

Assim, para um filme sobre motoqueiros, são poucas as sequências que de fato adentram na adrenalina desse estilo de vida e no ato de se pilotar uma moto em si. O foco de “Clube dos Vândalos” é justamente no drama e no ciclo dessas figuras. O caminho adotado, nesse contexto, é tortuoso, mas a chegada ao menos satisfaz na reflexão.

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