“Nossas vidas são o resultado da soma das nossas escolhas”, afirma Luther Stickell (Ving Rhames) para Ethan Hunt (Tom Cruise) em determinado momento de Missão: Impossível – O Acerto Final, o novo e oitavo filme da franquia Missão: Impossível, que chega oficialmente aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (22).
A frase — que já havia aparecido anteriormente nos materiais de divulgação do longa — é simbólica não só por funcionar como uma “frase de efeito” essencialmente, mas porque representa, de fato, muito do que seria o mote e as intenções desse que, por enquanto, promete ser o último capítulo da trajetória do agente secreto interpretado por Tom Cruise desde 1996, quando Missão: Impossível, dirigido por Brian De Palma (Scarface, Os Intocáveis), fez sua estreia.
Continuação direta de seu antecessor, Acerto de Contas: Parte 1, a trama de Acerto Final é simples: acompanhado de seus velhos aliados, Ethan deve impedir as consequências trágicas de uma inteligência artificial conhecida como “Entidade” em uma corrida contra o tempo que definirá o destino da realidade como a conhecemos.
Se a trama é simples, as ambições desse capítulo final, no geral, talvez não sejam tanto. Conforme o desenrolar dos acontecimentos avança, é nítido que a ideia de Tom Cruise (também produtor da série) e Christopher McQuarrie (diretor de confiança do astro desde o quinto capítulo, Nação Secreta, de 2015) é fazer deste um grande encerramento épico para a história construída ao longo de quase três décadas.
Assim, o filme não só ganha em duração — são quase três horas de projeção — como também em escala nas sequências de ação e na busca por ser um fechamento que conecta inúmeros pontos anteriores e consagra Ethan Hunt, de uma vez por todas, como um herói com um fardo a ser carregado. Muito mais do que o espião propriamente dito, o personagem de Cruise é alguém cujas escolhas tiveram efeitos em diferentes níveis, afetando a vida das pessoas próximas, para o bem ou para o mal. E mais do que isso: agora, conforme a Entidade ameaça destruir o mundo, o destino da humanidade está em suas mãos. Assim, é inevitável aceitar que tudo o que fez o levou até aquele momento — um acerto final com o passado, o presente, o futuro e consigo mesmo.
Missão: Impossível – O Acerto Final, dadas essas condições, por vezes pode soar pragmático demais ou mais engessado se comparado a alguns dos filmes anteriores. O roteiro, assinado pelo próprio McQuarrie e por Erik Jendresen, é marcado por explicações e longas sequências de diálogos expositivos, com o objetivo de relembrar acontecimentos passados ou mastigar os planos da equipe de Ethan para o espectador. As cenas de ação em si são poucas (basicamente duas, de longa duração), enquanto os personagens passam grande parte do tempo em conversas didáticas, com a direção de McQuarrie soando até mesmo apagada, já que se dedica basicamente a ilustrar essas passagens sem muita inventividade.
Se isso pode causar algum incômodo ou tornar a experiência densa demais em certos momentos, ainda assim há elementos louváveis e tudo aquilo que fez da franquia um sucesso aclamado em seus últimos capítulos. O tom de despedida, por exemplo, é evidente. Há o retorno de figuras conhecidas e flashbacks com cenas dos outros sete filmes. Esse sentimento de encerramento já se anuncia desde a abertura, com uma montagem que relembra momentos marcantes antes de Ethan partir para sua nova missão. As inserções, posteriormente, podem até parecer excessivas, mas cumprem bem o papel de conquistar o espectador emocionalmente nessa ideia de adeus.
Porém, nada disso faria de Acerto Final uma boa realização se não fossem os momentos em que o longa se entrega à clássica “loucura” da série. É aí que Missão: Impossível se prova a franquia que ainda rende algumas das melhores cenas de ação do cinema americano recente. O senso de urgência, o cuidado da direção com cores vibrantes e imagens vivas, e os planos gerais de McQuarrie são primorosos. E é sempre um deleite testemunhar Tom Cruise assumindo os riscos das cenas que, a cada nova produção, se tornam mais radicais e despertam a curiosidade do público pelo fato de o ator dispensar dublês e assumir para si toda a responsabilidade das sequências.
Se a sequência no miolo do filme, onde Ethan deve adentrar um submarino, já chama atenção pela sua grandiosidade, as cenas com a perseguição aérea entre o protagonista e o vilão Gabriel (Esai Morales) já estão entre as mais envolventes do ano, sobretudo pela forma como mantêm o espectador imerso — como se estivéssemos junto com Cruise pendurados no céu tentando evitar o fim do mundo.
Portanto, Missão: Impossível – O Acerto Final pode até concluir um ciclo com menos fluidez que seus antecessores, mas nada que comprometa o prazer de acompanhar o que a clássica saga estrelada por Tom Cruise e cia. ainda tem de melhor a oferecer. No fim das contas, salvar o mundo ao lado de Hunt e sua equipe segue sendo um deleite — mesmo depois de tanto tempo.
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