Crítica: Sem esquecer de suas falhas, “Super/Man: A História de Christopher Reeve” aprofunda o homem por trás da capa de forma humana e tocante 

Crítica: Sem esquecer de suas falhas, “Super/Man: A História de Christopher Reeve” aprofunda o homem por trás da capa de forma humana e tocante 

Se perguntarmos aos fãs de Superman e de histórias em quadrinhos em geral qual é a versão favorita deles de uma adaptação do Homem de Aço para as telas, é bem provável que a maioria das respostas seja a de Christopher Reeve, que deu vida ao personagem em Superman: O Filme, Superman II: A Aventura Continua, Superman III e Superman IV: Em Busca da Paz.

Nascido em 1952, Reeve ascendeu ao estrelato no final dos anos 70, quando foi escolhido para interpretar o herói em Superman: O Filme, dirigido por Richard Donner. No entanto, sua vida foi drasticamente transformada após um trágico acidente. Em 1995, enquanto participava de um campeonato de hipismo, Reeve sofreu uma queda de cavalo, fraturando o pescoço e ficando paralisado do pescoço para baixo até sua morte, em outubro de 2004.

Agora, exatos 20 anos após o seu falecimento, o documentário “Super/Man: A História de Christopher Reeve” chega como um tributo revelador à trajetória heroica de Reeve, dentro e fora das telas.

Com uma estrutura que não segue uma linha cronológica rígida, o filme não se limita a retratar Reeve apenas como peça-chave para o sucesso de Superman e para concretizar o famoso slogan “Você vai acreditar que um homem pode voar” — já que Reeve alcançou o status de melhor intérprete não só do Superman, mas de qualquer herói nas telas.

O documentário, na verdade, aprofunda a figura por trás da capa de maneira muito humana e tocante. Com uma vasta e minuciosa coleção de imagens de arquivo, o filme cobre todas as fases da vida do ator, contando com depoimentos de colegas próximos e de seus três filhos: Matthew, Alexandra e Will. 

Desde sua relação conturbada com o pai, a quem ele tentava incessantemente agradar quando jovem, até seu início no teatro e a amizade com nomes como Robin Williams — um de seus grandes amigos, que esteve ao seu lado nos momentos mais difíceis da reabilitação e ajudou a criar seu filho mais novo, Will — , o filme, dirigido por Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, mergulha profundamente nesses aspectos da vida de Reeve na busca de ser esse retrato abrangente e completo.

E se abrangente é um adjetivo que define bem esse trabalho, é interessante notar como o documentário também não foge de abordar as falhas de Christopher Reeve enquanto ser humano. Se por vezes confundimos a figura do ator com o próprio Superman, a humanização da figura daquele que encarnou o maior dos heróis é um ponto importante. 

O primeiro casamento fracassado e sua personalidade ativa e competitiva, que o tornaram ausente como pai e marido em diversos momentos, são exemplos dessa abordagem. Além disso, o filme menciona como, apesar de seu protagonismo em filmes como “Em Algum Lugar do Passado e produções menores para a televisão, Reeve enfrentou grandes dificuldades em se desvencilhar do rótulo de Superman e alcançar outros sucessos comerciais.

Ainda assim, o aspecto mais interessante e onde reside a verdadeira emoção do documentário é nos paralelos traçados entre Reeve e o Homem de Aço. No início do filme, o ator deixa claro que Superman era apenas um papel e que ele não era aquele indivíduo. No entanto, após o acidente, ele aprende a como de fato assumir essa função de herói na vida real.

Embora o documentário também aborde como alguns enxergavam um lado egoísta na luta de Reeve pós-acidente, o heroísmo dele se reflete na maneira como enfrentou sua nova realidade de vida, preso a uma cadeira de rodas e necessitando de cuidados médicos 24 horas por dia. Além disso, essa nova situação permitiu que ele se aproximasse emocionalmente de seus filhos, e o motivou a divulgar sua condição e a se dedicar intensamente aos estudos de células-tronco para ajudar outras pessoas em situações semelhantes.

Os relatos sobre a importância de suas aparições públicas, como no Oscar de 1996, que trouxeram visibilidade e conscientização para pessoas com deficiência, bem como o trabalho incansável de Reeve e de sua segunda esposa, Dana (que recebe também merecidos holofotes no decorrer e, principalmente, na etapa final do longa), na fundação de estudos — hoje administrada pelos três filhos do ator — são parte essencial do documentário. Além disso, o filme destaca o fato de Reeve ter voltado a atuar e até realizado seu desejo de dirigir um longa-metragem mesmo em sua condição debilitada.

Nesse contexto, um dos diferenciais do documentário são as montagens que mesclam cenas dos filmes do Superman com imagens da vida real de Reeve, criando uma narrativa poderosa — como o discurso de Superman na ONU em Superman IV: Em Busca da Paz com um discurso de Reeve em uma convenção do Partido Democrata ou em toda a sua sequência derradeira, uma reflexão sobre o legado de Christopher Reeve e sua fundação, atualmente chamada Christopher & Dana Reeve Foundation

O cuidado e profundidade de “Super/Man: A História de Christopher Reeve”, portanto, não falham em emocionar e em mostrar como a figura do último filho de Krypton e do maior de seus intérpretes compartilham, de fato, de muitas coisas em comum. Ao final, o que ecoa em nossos corações é a frase dita pelo próprio Christopher Reeve: “Um herói é um indivíduo comum que encontra a força para perseverar e resistir, apesar dos obstáculos devastadores.” O legado é eterno, e o filme de Ian Bonhôte e Peter Ettedgui o compreende muito bem. 


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