Crítica – Sombria, esquisita e brilhante: a evolução de Wandinha no segundo ano

Crítica – Sombria, esquisita e brilhante: a evolução de Wandinha no segundo ano

É raro ver uma série tão popular como Wandinha reconhecer seus próprios tropeços e encontrar uma rota de correção tão eficiente entre uma temporada e outra. O primeiro ano, embora tenha conquistado números históricos para a Netflix e se consolidado como um fenômeno cultural, estava longe de ser unanimidade. A própria protagonista Jenna Ortega não escondeu incômodos com algumas escolhas criativas, especialmente no foco excessivo nas dinâmicas adolescentes e nos dilemas amorosos que, no fim, esvaziavam a força da personagem.

Na segunda temporada, Alfred Gough e Miles Millar mostram que escutaram as críticas e entregaram um produto mais maduro e consistente. A presença de Tim Burton, que já era perceptível na atmosfera gótica de Nunca Mais, ganha contornos muito mais sólidos. Não se trata apenas da estética ou do design de produção — que seguem deslumbrantes —, mas de uma imersão narrativa no sombrio. Lobisomens, Hydes, corvos assassinos e cabeças falantes dão o tom de um universo que agora respira Burton por todos os lados, aproximando a série de obras clássicas do diretor.

O grande mérito, porém, está na forma como a série se afasta da “novela teen” para dar profundidade real à sua protagonista. Wandinha cresce, erra, paga o preço por sua arrogância e, sobretudo, é obrigada a se enxergar como falha — um traço que a torna mais humana e, paradoxalmente, mais fascinante. Esse amadurecimento também reverbera nos coadjuvantes. Morticia, em especial, brilha como contraponto à filha, num embate delicado entre tradição, amor e incompreensão.

Nem tudo, no entanto, funciona com a mesma precisão. O arco de Bianca (Joy Sunday), resolvido às pressas em um único episódio, denuncia que a sala de roteiristas ainda não sabe equilibrar todos os elementos que cria. Da mesma forma, o vilão Isaac Night (Owen Painter) carece de motivações claras, deixando o clímax da temporada menos impactante do que poderia.

Ainda assim, os acertos superam os deslizes. Wandinha encontra em seu segundo ano não apenas a identidade que parecia procurar desde a estreia, mas também um caminho promissor para o futuro. Com a terceira temporada já confirmada, a expectativa é de que Gough e Millar continuem a beber da fonte de Tim Burton e a explorar Wandinha como aquilo que ela sempre foi: sombria, esquisita e brilhante.

Em resumo, se o primeiro ano mostrou potencial, o segundo prova que Wandinha não é apenas mais uma série adolescente com estética gótica. É uma história que, ao assumir sua estranheza, finalmente encontra força para se destacar — e Jenna Ortega é o centro magnético que sustenta tudo isso.


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