Matrix 4 chega essa semana aos cinemas e nós decidimos revisitar o primeiro filme da franquia. Confira!
“Você já teve um sonho, Neo, que parecia ser verdadeiro? E se você não conseguisse acordar desse sonho? Como você saberia a diferença entre o mundo dos sonhos e o mundo real?”
Morpheus, Matrix (1999)
Lançado em 1999, Matrix, escrito e dirigido pelas irmãs Lily e Lana Wachowski, e estrelado pelo adorado astro Keanu Reeves, foi um sucesso estrondoso de público e de crítica, sagrando-se como a quarta maior bilheteria daquele ano e sendo, até hoje, um dos filmes mais cultuados de todos os tempos. Em 2003, o filme ganhou duas continuações, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, que, apesar de não terem obtido a mesma aclamação, completaram a famosa trilogia de filmes que está prestes a ganhar uma continuação: Matrix Ressurections, com previsão de estreia para essa semana no Brasil.
Para muitos, Matrix não passa de um filme confuso e sem nexo. Porém, para uma outra parcela significativa do público, o longa das irmãs Wachowski é uma obra genial e genuinamente revolucionária. Na trama, com inspirações diretas de obras como o anime Ghost in the Shell (1995) e o longa O Mundo por um Fio (1973), acompanhamos a história de Neo (Reeves), um programador e hacker de computadores que descobre que a realidade como percebida pelos seres-humanos trata-se, na verdade, de uma simulação denominada “Matrix“. Esta, por sua vez, foi criada por máquinas sencientes com o intuito de subjugar os integrantes da raça humana, enquanto utilizam o seu calor como fonte de energia. Neo é convocado por Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-Anne Moss), membros de uma rebelião contra essas máquinas, que acreditam que ele seja o escolhido (Ou “The One“, como denominado no filme) para liderar a humanidade em direção a liberdade do domínio das máquinas.
Um ponto bastante favorável ao “culto” a Matrix são os temas filosóficos e religiosos que o filme condensa de forma inteligente em sua trama. Na verdade, o longa estrelado por Keanu Reeves gerou e gera até hoje muitas discussões e debates que chegaram até mesmo no mundo acadêmico, com inúmeros artigos e até mesmo citações em livros comentando o assunto (Para pegarmos um exemplo, no Brasil, temos o livro “Convite à Filosofia”, da professora da USP Marilena Chauí, onde ela aborda em um dos capítulos a relação do filme com o Mito da Caverna de Platão). Para aqueles que possuem um conhecimento prévio mínimo dessas áreas, isso não é algo assim tão surpreedente, já que, até mesmo nos diálogos ao longo da projeção, são feitas referências notáveis a textos como O Mito da Caverna de Platão e os romances Alice no País das Maravilhas e O Mágico de Oz, dos escritores Lewis Carroll e L. Frank Baum, respectivamente.
Pegando um dos exemplos no campo da filosofia que sintetiza essas abordagens centrais de Matrix sobre a verdadeira natureza da realidade e libertação por meio da descoberta da verdade, olhemos para a própria Alegoria da caverna de Platão (Ou mito da Caverna), talvez o texto filosófico que mais fique nítido ao fazer uma análise do filme das irmãs Wachowski. Nela, em linhas gerais, acredita-se que diversos escravos se encontravam presos em uma caverna. Observando sombras que uma fogueira projetava no fundo dela, esses indivíduos adotam uma visão errônea e limitade de que aquela seria a única realidade. Até que, um dia, um desses escravos se liberta e caminha em direção a saída da caverna, descobrindo um mundo completamente diferente do que estava habituado. Agora, ele deve voltar e avisar aos outros escravos sobre a sua descoberta, assumindo o papel da figura do filósofo, aquele que leva os indivíduos em direção ao conhecimento verdadeiro. Assim, no filme, Neo seria o filósofo, aquele que foi em direção a verdadeira realidade/conhecimento, e a Matrix é a caverna, a falsa realidade onde os escravos encontram-se aprisionados.
Dito isso, o que é mais surpreedente em relação ao longa não são puramente os temas abordados, pois de nada adiantaria a pretensão de se realizar uma obra profunda sob o ponto de vista conceitual sem uma boa execução ou uso da linguagem do cinema de forma notável e que fizesse sentido para com essa ideia. Assim, o que também chama muita atenção em Matrix é a forma como as diretoras do filme, para representar e contar essa história aos seus espectadores, aliam aos temas da filsofia uma mistura de elementos de gêneros como ação, artes marciais, ficção-científica e Cyber Punk. Esse último, um subgênero da ficção que imagina um futuro decadente e dominado por tecnologia, pode ser considerado o mais notável e mais cativante deles, já que o “Mundo dos Sonhos” e o “Mundo Real” são representados pelo forte uso de tons verde-acinzentados e pálidos, dando a noção de falta de vida, e o uso dos efeitos de CGI/digitais nos apresenta a uma realidade dominda por máquinas que, por sua vez, remetem as mais grotescas criaturas vindas diretamente de um filme de terror e que “cultivam” seres humanos na condição de fetos (não coincidententemente Matrix, ou matriz, significa útero). A ironia de tudo: os humanos foram os próprios responsáveis pela criação dessas máquinas.
E por falar em efeitos especiais, o impacto do longa na indústria do cinema, principalmente o cinema mainstream do século XXI, também foi notável, justamente por conta da forma em que esse elemento é utilizado. É inegável que Matrix foi um marco importante para os avanços na uso da tecnologia digital, assim como inovou com a utilização do efeito conhecido como Bullet time (algo como tempo de bala, em tradução livre), que resultou nas icônicas cenas de ação em câmera lenta, onde, numa espécie de suspensão do tempo, a câmera é capaz de se movimentar e mostrar detalhes dos acontecimentos. Esse efeito já havia sido utilizado previamente em outras obras, porém, não da forma como em Matrix, onde ele se destaca para tornar as excelentemente bem coreografadas cenas de ação em ainda mais memoráveis para o público.
Em suma, Matrix foi um grande sucesso por uma série de fatores que valeriam um artigo isolado para cada, com o intuito de se aprofundar devidamente no assunto. Porém, em resumo, o filme das irmãs Wachowski é uma grande colagem de temas que não envelhecem, mas na verdade parecem cada vez mais fazer sentido, executados com escolhas narrativas inovadoras e cativantes para os amantes da boa ficção-científica e ação. Agora resta ver o que nos aguarda no vindouro quarto filme da franquia!
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