“E.T. telefonar casa”
– E.T.
Steven Spielberg talvez seja o cineasta mais bem-sucedido da história do cinema. E não pelas suas habilidades como diretor puramente, mas sim pelo fato de, em sua vasta carreira, que já ultrapassa 50 anos de história, Spielberg ter estabelecido uma habilidade impressionante de criar um cinema que ao mesmo tempo em que é autoral, também é blockbuster, alcançando, assim, um número expressivo de sucessos críticos e comerciais. Em outras palavras, Spielberg é um caso de diretor que estabeleceu um estilo artístico que, apesar de único e pessoal, consegue ser, simultaneamente, universal, conquistando audiências do mundo todo e o transformando em uma unanimidade. Dito isso, dentro de sua filmografia, há um filme que talvez seja o representante máximo dessa ideia: E.T. O Extraterrestre (1982), que, em 2022, completa 40 anos de seu lançamento original nos cinemas.
Lançado em 1982, a história por trás de E.T. começa ainda na infância de seu idealizador. Os pais de Steven Spielberg se divorciaram quando ele ainda era uma criança. Assim, para lidar com esse momento difícil de sua vida, ele conta que teria criado um amigo imaginário extraterrestre, que, durante o período em que convivia e aceitava a separação de seu pai e de sua mãe, se tornou a sua maior companhia e escape daquela realidade. Tempos depois, o diretor viria a utilizar dessa experiência pessoal para criar o conceito do filme, que amadureceu por anos e anos em sua cabeça.
Na época da realização de E.T., Spielberg era um ídolo em constante ascensão, que já tinha em sua bagagem sucessos como Tubarão (1975) e Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida (1981). Ele contaria sua ideia para a roteirista Melissa Mathinson, que logo começou a trabalhar no roteiro do longa-metragem, cujo um primeiro manuscrito foi intitulado de “E.T. and Me”. A trama é simples- acompanhamos a história da amizade entre o menino Elliot e um pequeno alienígena que, ao ficar perdido na terra, busca uma forma de voltar para casa. Porém, o resultado desse conceito supracitado foi um filme que, além de riquíssimo em elementos que são marca registrada de Steven Spielberg como um todo, é recheado por temas muito marcantes e de fácil identificação com as audiências. Dentre eles, a amizade, o amadurecimento e o desafio de crianças em crescerem com os pais separados.
Porém, nada disso seria assim tão marcante se não fosse pela abordagem do cineasta a essa história em si. Aqui, como dito anteriormente, é como se Spielberg estivesse contando uma fração de sua própria vida, uma história pessoal sua, em que ele é preciso em injetar sensibilidade e carisma únicos. Assim, o resultado final é essa trama, que, em um primeiro momento, pode soar até mesmo despretensiosa ou boba, se transformando em algo catártico e infalível em cativar e emocionar espectadores de todas as idades. É, justamente, o pessoal se tranformando em absoluto.
Logo de cara, o diretor estabelece com maestria elementos narrativos fundamentais. Temos, por exemplo, um contexto urbano e familiar com personagens bem-consolidados, principalmente a mãe, ainda enfrentando o desafio de reestruturar uma rotina pós-divórcio, e as crianças, de perfis e personalidades divergentes e marcantes. Além disso, a direção de Spielberg proprimamente dita, aliada à belíssima fotografia de Allen Daviau, logo nos primeiros minutos de projeção são certeiras em estabelecer uma atmosfera fantástico-misteriosa que permeia toda a obra subsequentemente- sendo sustentada, sobretudo, pela não-revelação inicial dos rostos dos agentes governamentais, a forte presença da luz, seja ela natural ou artificial, que penetra e se destaca fortemente nos ambientes, e até mesmo o uso da neblina de forma pontual em certos momentos.
Como sequências memoráveis e filmes de Steven Spielberg são quase que sinônimos, ao longo do filme, como resultado final, a audiência é presenteada pelo diretor com diversos momentos que permanecem até hoje vivos no imaginário popular- a fuga das rãs no colégio, a festa de halloween e a invasão à casa da família de Elliot pelo governo. Na verdade, nesse quesito, é justo afirmar que o coração do filme reside na graciosidade do extraterrestre e na sua amizade e conexão estabelecidas com Eliott, interpretado por um Henry Thomas em uma atuação tão comovente, que dá a entender que o ator mirim encorpora o próprio Spielberg coexistindo com seu amigo imaginário de outro planeta. Empregando tangibilidade aos temas da obra, são esses fatores que, além de nos proporcionarem os momentos listados anteriormente, culminam em um clímax espetacular, onde as sequências da fuga das bicicletas e a emotiva despedida de Elliot e E.T. talvez não fossem assim tão poéticas nas mãos de outro cineasta.
Alem disso, é também fundamental lembrar de outros nomes importantes que contribuíram diretamnete para o sucesso do longa. O visual de E.T. foi desenvolvido pelo especialista em efeitos visuais italiano Carlo Rambaldi, que misturou traços da sua aparência com os de Albert Einstein e dos escritores Carl Sandburg e Ernest Hemingway para dar vida a um dos maiores ícones pop que o mundo conhece. Para a criação dos olhos, componente crucial da simpática e cativante aparência do alienígena, a produtora Kathleen Kennedy chegou a contratar um instituto especializado em olhos para consultoria. Além disso, colaborador de longa data de Spielberg, o compositor John Williams jamais poderia deixar de ser mencionado. Afinal, o que seria da sequência da perseguição e do voo das bicicletas sem a sua música? O tema de Williams para o longa se tornou um dos mais famosos do cinema, além de ter rendido ao compositor o seu quarto Oscar de Melhor Trilha Sonora da carreira.
Um sucesso absoluto, em seu lançamento, além da ampla aclamação crítica, E.T. O Extraterrestre se tornou a maior bilheteria de todos os tempos daquela época, superando o primeiro longa da franquia Star Wars (1977). Hoje em dia, exatas quatro décadas depois, a história da amizade entre Elliot e o doce alienígena permanece atemporal, inspirando e confortando gerações de apaixonados por Cinema, ficção e fantasia. Certa vez, Steven Spielberg afirmou que “Muitos dos meus filmes lidam com o que eu queria que o mundo fosse, e isso faz parte da minha arte”. Nada mais precisa ser dito. Esse é o fator que torna as obras do diretor tão únicas. Obrigado por compartilhar a sua visão conosco, Steven!
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