Especial Oscar 2021: Com show de Anthony Hopkins, Meu Pai é um retrato tocante e avassalador sobre a demência!

Especial Oscar 2021: Com show de Anthony Hopkins, Meu Pai é um retrato tocante e avassalador sobre a demência!

Assistir a um filme como Meu Pai, creio eu, é uma experiência que causará um impacto maior (para não dizer que será melhor compreendido) por quem já passou ou passa pelo problema de parentes e pessoas próximas que, quando chegam a terceira idade, desenvolvem, de forma muito infeliz e fora do controle de todos, problemas relacionados a saúde mental, como demência senil e Alzheimer. Lidando diretamente com essa questão extremamente delicada, o longa, estrelado de forma brilhante por Anthony Hopkins e Olivia Colman, se prova um dos melhores filmes do ano de 2020 e, consequentemente, vem ganhando também destaque na temporada de premiações desse ano, onde, inclusive, concorre em seis categorias do Oscar 2021, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator (indicação para Hopkins) e Melhor Atriz Coadjuvante (indicação para Colman).

Dirigido pelo escritor e dramaturgo Florian Zeller, e escrito por ele mesmo em parceria com Christopher Hampton, Meu Pai é baseado na premiada peça de teatro francesa Le Père, do próprio Zeller, que faz aqui a sua estreia como diretor de Cinema. A trama da adaptação para a grande tela é a mesma da peça; Somos apresentados a Anthony ( Vivido por Anthony Hopkins), um homem idoso que, à medida que está envelhecendo, começa a desenvolver demência, e sua filha, Anne (Olivia Colman), que diante da situação e sua iminente mudança para a cidade de Paris, que a afastará do convívio e da possibilidade de cuidar de seu pai, passa a enfrentar o desafio de encontrar uma solução para os cuidados dele.

Logo na sua estreia no cinema, Florian Zeller opta por uma direção que nos lembra muito o teatro em vários aspectos. Para ilustrar essa situação cotidiana desafiadora entre Pai e filha, Zeller, na maior parte do tempo, escolhe por realizar os enquadramentos por planos fixos, variando entre abertos, médios e fechados, como se nós espectadores estivéssemos diante de uma janela aberta para a vida daqueles personagens e a situação complexa que eles vivem. Sua câmera se movimenta somente em momentos específicos, geralmente quando os personagens se deslocam pelos cenários e ela, consequentemente, os acompanha.

E por falar em cenários, o que também chama atenção na direção de Zeller é a sua mise en scène. O diretor posiciona os atores e objetos nos enquadramentos de forma onde todos os elementos de cena possam ser vistos juntos e de forma clara, organizados de uma forma que, novamente, nos lembra muito o teatro. Nesse contexto, temos que ressaltar também o excelente trabalho da direção de arte do longa. Assinada por Peter Francis e Cathy Featherstone, que encontram-se indicados ao Oscar de Melhor Direção de Arte em 2021, se destacam as perfeitas caracterizações e nível de detalhes dos ambientes vistos, principalmente o apartamento em que vivem os personagens e onde nós passamos a maior parte do filme.

Porém, o que chama verdadeiramente a atenção em Meu Pai está além de decisões estéticas puramente. Na verdade, o brilho do filme está na forma em que ele ilustra a demência de forma convidativa ao espectador em também ter uma experiência de confusão em seu raciocínio. Em outras palavras, a intenção de Meu Pai é promover uma experiência que pode ser classificada como sensorial da demência, onde o roteiro e direção optam por escolhas narrativas para tal. Anthony, o nosso protagonista, começa a duvidar de seus entes queridos, de sua própria mente e até mesmo da realidade. O embarque nessa triste “confusão” é feito pela mistura de linhas do tempo, de cenários e até mesmo de personagens. Um exemplo para ilustrar melhor e sem muitos detalhes: Em determinado momento, uma pessoa que cumpre tal função na vida de Anthony é vista por ele como sendo outra, com uma função diferente. No início, nós espectadores ficamos confusos, para mais tarde, em uma espécie de plot twist, o que está acontecendo nos ficar claro.

A medida que a confusão do espectador passa e nós compreendemos o que está acontecendo de fato, Meu Pai torna-se em uma experiência avassaladora e comovente. Nós acompanhamos de perto o sofrimento de Anthony por ter noção de que algo não está certo consigo mesmo e, consequentemente, toda a dúvida das pessoas a sua volta, tendo em vista que, quando essa infeliz e indesejada fase da vida chega (não que chegue para todos, claro), juntos de carona chegam a dúvida e o conflito em relação ao que se fazer, como agir de forma correta e o sofrimento de ver quem se ama nessa situação, sentimentos esses que, como dito no início desse texto, são melhores compreendidos por quem já esteve ou está em situação parecida com algum ente querido ou pessoa próxima. É esse espectador que Meu Pai acertará em cheio e até mesmo arrancará algumas lágrimas.

No meio disso tudo, existe um IMENSO detalhe que não poderia passar batido. Esse é conhecido pelo nome de Sir Anthony Hopkins. Ao lado de uma também incrível performance de Olivia Colman, que prova que ela é, sem dúvidas, uma das melhores atrizes da atualidade, é impressionante como que, no auge de seus 83 anos, o veterano ator entrega uma das suas melhores atuações em incríveis mais de cinquenta anos de carreira. Se nós espectadores “compramos” essa história, muito é por causa do trabalho do ator, que transforma o protagonista em um homem, em certos momentos, adorável, e que, em outros, ganha a comoção e sentimentos de quem assiste, resultando em uma das atuações definitivas de Hopkins e, para além disso, uma das mais tocantes. Não à toa, por sua performance, esse ano ele encontra-se indicado pela sexta vez a um Oscar de atuação, sendo três das cinco anteriores para a categoria de Ator principal e duas em Ator Coadjuvante, onde ele saiu vitorioso uma vez, em 1992, por seu papel como Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes (1991).

Em suma, Meu Pai sagra-se merecidamente como um dos melhores filmes de 2020 e da temporada de premiações de 2021. Impressiona a forma como Florian Zeller, em sua estreia na sétima arte, conseguiu migrar de forma perfeita do teatro para o cinema uma história que aborda um tema delicado e que cada vez mais afeta e desafia famílias ao redor do mundo, fazendo de Meu Pai um filme universalmente comovente e tocante, que ainda por cima é coroado com uma das melhores performances de um dos melhores atores da história do cinema americano e mundial.

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