No atual momento da indústria cinematográfica norte-americana, onde remakes e continuações, destinados a reviverem as emoções sentidas pelas audiências outrora, parecem ser garantia de retorno financeiro para os cofres dos grandes estúdios Hollywoodianos, é completamente compreensível (ou previsível) que Top Gun: Ases Indomáveis (1986), filme dirigido pelo saudoso Tony Scott (irmão do também cineasta Ridley Scott e que cometeu suicídio em 2012) e maior bilheteria do seu ano de lançamento, tenha sido uma das mais recentes vítimas desse movimento. Afinal, estamos falando sobre um longa-metragem que é um grande alvo de adoração nos mais variados grupos, indo desde amantes da aviação até cinéfilos e nostálgicos dos anos 80 como um todo.
Porém, se em grande parte dos casos que compõem essa onda de saudosismo, as audiências se acostumaram a presenciar resultados enfadonhos- filmes vazios, completamente desprovidos de originalidade e que se sustentam no fator nostalgia e nele somente, esse, definitivamente, não foi o caso de Top Gun: Maverick.
No filme, reencontramos Pete “Maverick” Mitchell, mais um vez interepretado por Tom Cruise, que retorna a um dos papéis mais icônicos de toda sua carreira. Passados mais de três décadas dos acontecimentos de Ases Indomáveis, Maverick ainda é o mesmo piloto rebelde e indisciplinado de antes, e, por conta disso, se vê obrigado a retornar ao programa Top Gun, o mesmo que o formara como piloto. Dessa vez, entretanto, na função de instrutor.
Aqui, a nostalgia, que fique claro, está presente. Entre participações especiais e momentos mais óbvios de referências com intuito de despertar gatilhos emocionais no público, como a tocante participação esepecial de Val Kilmer, Top Gun: Maverick não tem vergonha de reverenciar o seu antecessor. O longa herda, nesse contexto, não só a estrutura narrativa propriamente dita do filme de 1986, como também seus elementos mais bregas e cafonas- refletidos nos momentos românticos entre Maverick e Penny Benjamim (Jennifer Connelly), par amoroso do protagonista (que substitui a personagem Charlie, interpretada pela atriz Kelly McGillis no longa original), e as interações burlescas de rivalidade e parceria entre os personagens, como nas cenas do bar e nas sequências do futebol na praia.
Por outro lado, a temática aqui abordada é assertiva em transformar o longa, dirigido por Joseph Kosinski (de Tron: O Legado e Oblivion), em uma sequência bastante original, sobretudo por conta do foco em si dado ao personagem vivido por Tom Cruise. Em Top Gun: Maverick, estamos acompanhando a história de um homem deslocado de seu próprio tempo, cujo os feitos, métodos e personalidade subversiva de normas são vistos como ultrapassados. Indo além, o personagem de Cruise ainda é um indivíduo assombrado pelos fantasmas do seu passado, que são representados, em essência, pelo personagem de Rooster (Miles Teller), o filho de Goose (Anthony Edwards), seu antigo parceiro de voo e por quem Maverick ainda se culpa pela morte acidental e precoce.
Sendo assim, ao final da projeção, por conta dessa precisa construção dramática supracitada, as impressionantes sequências de ação do filme, que, por fazerem o espectador sentir a adrenalina das situações, fazem jus ao status que Top Gun carrega, não são somente apelos técnico-visuais por si só. Esses momentos, construídos por meio de trabalhos primorosos de som, edição, etc. representam, na verdade, o acerto de contas e a reconciliação entre um homem e seu passado, seu presente e seu futuro. Em outras palavras, o legado propriamente dito.
E por falar em legado, esse é um conceito que, com o passar do tempo, cada vez mais se faz presente na “entidade” Top Gun: Maverick. Quase um ano após o seu lançamento original, é fato que o filme é um marco da indústria, tendo em vista não só a sua aclamação crítica e sucesso de indicações na temporada de premiações de 2023 (o longa conta com seis indicações ao Oscar desse ano, incluindo Melhor Filme), mas, sobretudo, o seu sucesso de bilheteria, que soma mais de 1,4 bilhões de dólares mundialmente.
Na era da pandemia de Covid-19, onde salas de cinema no mundo inteiro foram fechadas e o futuro do cinema presencial chegou a ser considerado como incerto, com os estúdios migrando parte de seus principais lançamentos para os streamings, Top Gun: Maverick foi o filme que trouxe em massa as audiências de volta ao cinema. Restaurando, assim, as esperanças e, como dito pelo próprio Steven Spielberg, em um encontro recente com o ator no almoço dos indicados ao Oscar de 2023, elevando Tom Cruise ao status de “salvador” de Hollywood e da indústria cinematográfica como um todo.
Sendo assim, o longa pode até não sair vitorioso dos prêmios Oscar desse ano, tendo em vista o favoritismo de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022). De toda forma, se o futuro do cinema chegou a ser dúvida nos últimos anos de nossa existência, Top Gun: Maverick chegou para demonstrar o poder que uma boa e bem executada história possui em causar comoção, provando, ainda por cima, como a experiência das salas do cinema ainda é isubstituível para tal.
No final das contas, assim como os personagens interpretados por Tom Cruise e cia., as audiências parecem também “Sentir a necessidade… a necessidade por velocidade.”
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