Na última sexta feira, uma notícia triste abalou o mundo do cinema. O ator Sidney Poitier faleceu aos 94 anos de idade. Um dos mais respeitados de seu ofício, Poitier, nos anos 60, começou a fazer um sucesso estrondoso nos cinemas. Durante esse período, se destacou em filmes que lhe geraram aclamação por suas performances, como O Sol Tornará a Brilhar (1961), Ao Mestre, com Carinho (1967), No Calor da Noite (1967) e Advinhe quem vem para Jantar (1967).
Porém, a carreira de Sidney Poitier ficaria marcada para sempre por um feito histórico: Na cerimônia do Oscar de 1964, por seu desempenho no longa Uma Voz nas Sombras (1963), ele se tornaria o primeiro homem negro a vencer um Oscar de Melhor ator. No filme, ele vive Homer Smith, um trabalhador desempregado que, ao dirigir seu carro por uma estrada do Arizona, encontra cinco freiras. Ao fazerem um singelo pedido para o homem (um conserto no telhado de sua fazenda), ele se torna próximo das figuras religiosas, que passam a acreditar que Homer seja um enviado de Deus, destinado a ajudá-las a construir uma nova capela para o local.
O cinema, assim como todas as outras artes, sempre relfletiu a realidade do seu tempo. Dito isso, quando olhamos para todo o histórico de racismo e segregação racial nos Estados Unidos, essas infelizes caracterísitcas da sociedade americana também se fizeram presentes na sétima arte. Não somente nos temas abordados pelas obras, mas também, inevitavelmente, nos seus bastidores.
Em 1927, por exemplo, era lançado o filme O Cantor de Jazz. Altamente considerado o primeiro filme falado da história do cinema, o longa foi estrealdo por Al Jolson. Na época, o ator teve que utilizar uma técnica de maquiagem conhecida como blackface, que consistia em um intérprete branco usar uma maquiagem escura no rosto para se passar por um afro-descendente, pelo simples fato de, na época, negros serem proibidos de terem papéis de destaque nas telas.
Além disso, vale lembarar também que, Poitier não foi o primeiro negro a vencer um Oscar. Esse feito ficaria para a atriz Hattie McDaniel. Em 1940, ela vencera um Oscar de Melhor Atriz coadjuvante pelo Romance épico E o Vento Levou (1940). Porém, inibida de qualquer posição de destaque ou prestígio (assim como a sua personagem no filme, uma escrava de uma família muito rica), a brilhante atriz, além de ter sido proibida de comparecer na estreia do filme, foi obrigada a ficar em uma sala separada dos indicados brancos na noite da cerimônia.
Assim, numa época onde a luta pelos direitos civis dos negros ganhava cada vez mais destaque e força, a figura de Sidney Poitier surgiu ao estrelato para mudar o jogo. Se na música tínhamos Sam Cooke, que emplacou sucessos como a belíssima “A Change Is Gonna Come“, e nos esportes Muhammad Ali, o maior boxeador de toda a história do esporte, no cinema era Poitier. Muitos dos filmes estrelados pelo ator nos anos 60 eram o reflexo nas telas da luta vigente, que tinha os nomes de Martin Luther King e Malcolm X como principais líderes na frente social em si.
Em No Calor da Noite, deu vida a Virgil Tibbs, um homem negro que é preso na cena do crime de um homicídio, sob a falsa acusação de o ter cometido. Pouco depois, as autoridades descobrem que Tibbs trata-se de um dos principais detetives da polícia da Filadélfia, e, a partir daqui, ele passa à ajudá-los a solucionar o caso. Em Adivinhe quem vem para o Jantar, viveu o elegante John Prentice, um homem que fica noivo da filha de um casal branco. Chocados ao saber que sua primogênita está apaixonada por um negro, buscam sabotar a imagem do homem, mas acabam encontrando somente qualidades. Já na ocasião de Ao Mestre, com Carinho, esteve na pele de Mark Thackeray, um engenheiro que se torna professor de uma escola de estudantes rebeldes. Esses, por sua vez, se unem com o intuito de sabotá-lo do cargo, porém, ao serem tratados com extrema cordialidade, aos poucos abandonam a ideia e se tornam cada vez mais próximos do professor.
Não seria exagero afirmar que Sidney Poitier foi o primeiro “super-astro” negro da história do cinema, possibilitando que gerações e mais gerações continuassem sonhando em um dia conseguirem seus devidos lugares de destaque nas telas. Assim, se hoje nós temos o prazer de vermos brilhar nomes como os de Denzel Washington, Morgan Freeman, Idris Elba, Viola Davis, Will Smith, Jamie Foxx, Lupita Nyong’o e tantos outros talentos, foi porque houve um Sidney Poitier. Um símbolo de luta e resistência. Um homem que fez um sistema se render por meio da pura elegância e talento. Uma lenda cujo legado será eterno.
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