“Agora sabem que existiu um homem chamado Jack Dawson. E que ele me salvou de todas as formas que uma pessoa pode ser salva.”
Rose (Titanic)
O ano era 1997 e James Cameron apresentava para as audiências Titanic, o seu épico que, pela ótica de um romance fictício, recontava a tragédia do naufragio do Titanic, ocorrido em abril de 1912. Agora, 25 anos depois, o filme está de volta aos cinemas, em uma versão remasterizada em 4K, e ainda é uma experiência atemporal, recheada de momentos que permanecem vivos no imaginário popular e que ainda possuem a proeza de emocionar as plateias do mundo todo- independentemente desse ser um possível primeiro contato do espectador com o filme ou não.
Em seu lançamento original, o sucesso foi absoluto. Na época, Titanic se tornou a maior bilheteria da história do cinema (curiosamente, o recorde do filme foi superado em 2009, por outro filme de Cameron: Avatar), sendo comum histórias de indivíduos que não iam ao cinema há anos fazendo questão de ver a mais nova realizaçao de James Cameron na tela grande. Além disso, o filme faturou 11 prêmios Oscar (incluindo Melhor Filme) no ano de 1998, se estabelecendo como o maior vencedor da história da premiação até hoje- empatado com Ben-Hur (1959) e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003).
A trama (como na maioria dos filmes de Cameron) é simples. Ao longo das mais de três horas de filme, acompanhamos a história de Jack Dawson (Leonardo DiCaprio), um artista humilde que ganha uma passagem para o Titanic em uma mesa de jogo, e Rose DeWitt Bukater (Kate Winslet), uma jovem de uma família que fora muito rica e agora enfrenta a falência. Os dois se conhecem e se apaixonam a bordo do Titanic, porém, Rose está noiva do arrogante Cal Hockley (Billy Zane), um magnata do aço em que sua mãe enxerga a oportunidade de salvar a família da penúria. Apesar disso, a jovem se sente aprisionada com a situação, decidindo sacrificar tudo em busca de sua libertação pessoal e de um amor verdadeiro.
De antemão, a química entre Leonardo DiCaprio (que venceu as concorrências de Matthew McConaughey e Johnny Depp para o papel de Jack) e Kate Winslet (que chegou a pegar uma pneumonia filmando as sequências na água) é um fator determinante para que estejamos envolvidos nessa história. O casal, de personalidades muito bem estabelecidas pelo roteiro, é a verdadeira alma do filme – o artista humilde e bon-vivant e a moça rica que se sente aprisionada em uma realidade onde as pessoas são obrigadas a viver de aparências e posses, e as interações românticas e bem-humoradas entre eles são infalíveis em conquistar o espectador.
Indo além, a essa altura do campeonato, seria chover no molhado falar sobre a obsessão de James Cameron pela tecnologia no cinema e sobre a consequente excelência técnica de seus filmes, de O Exterminador do Futuro (1984), até Avatar: O Caminho da Água (2022), sequência de Avatar (2009) e sua mais recente realização. No caso de Titanic, de toda forma, o filme custou mais de 200 milhões de dólares e, além do diretor (que nunca escondeu seu fascínio por naufragios) ter filmado os destroços reais do navio para as sequências da expedição, réplicas fiéis às partes exteriores e interiores do Titanic original também foram construídas.
Entretanto, Titanic não seria um filme assim tão memorável se não fosse pela maestria de James Cameron na condução dos acontecimentos, já que o fator épico e tecnológico não seria capaz de sustentar essa experiência por si só. Aqui, a vocação do cineasta para com o espetáculo é impressionante e apesar das mais de três horas de duração, Titanic nunca é uma experiência cansativa, já que a todo momento estamos imersos emocionalmente nos acontecimentos.
Em Titanic, há um clima onírico e de encantamento que permeia o filme. Como dito pela versão idosa de Rose (interpretada pela serena Gloria Stuart) no início do longa, “O Titanic era o navio dos sonhos” e aqui é como se estivéssemos embarcando nesse sonho junto de Jack e Rose. Sintetizando essa ideia, ao longo do filme a fotografia é quase que inteiramente composta de planos muito bem iluminados, com pouquíssimas sombras- o que faz com que os personagens e os ambientes pareçam estar a todo momento envoltos em áureas de luz. Onde são acompanhados, por sua vez, por uma trilha sonora de partituras suaves de James Horner, certeira em fortalecer a sensação de fascínio.
Além disso, chama atenção como a câmera de James Cameron sempre busca enquadramentos de forma que sintamos a grandiosidade e o entusiasmo com relação ao Titanic. Como é o caso de toda a sequência da primeira aparição e partida do navio e, mais tarde, a cena em que Jack se debruça em sua proa e recita a icônica frase “Eu sou o Rei do Mundo!”.
Em paralelo a isso, o diretor, seja por planos médios ou mais abertos, também busca, a todo momento, valorizar os detalhes perfeccionistas da reconstrução do navio e de seus ambientes, com inúmeras cenas dedicadas a contemplar e nos impactar com as suas engrenagens, suas hélices, etc. e nos inserir ou nos ambientes luxuosos da primeira classe ou no desconforto claustrofóbico da terceira classe- onde a montagem também é incisiva em alternar entre um e outro, para que a diferença entre a monotonia e a etiqueta de um e o alvoroço e o despojo do outro sempre desperte nossa atenção.
Após o choque com o iceberg, no entanto, impressiona como o clima de encantamento aos poucos vai sendo substituído pela tensão e pelo horror do naufrágio iminente. A partir daqui, Titanic ganha contornos de um filme de suspense e terror. A fotografia passa a adotar tons mais frios e o imersivo trabalho de som nos faz ouvir uma mistura inquietante de gritos de desespero, ruídos ásperos do aço e a força da água tomando conta dos compartimentos do Titanic, como se o sonho se tornasse um pesadelo e a distinção entre as classes já não importasse mais. Todos estão na mesma situação, onde dinheiro, obras de arte valiosas e louças de luxo são incapazes de fazer qualquer diferença.
De qualquer forma, a magia, que por um momento nos deixa para o bem da narrativa, retorna no memorável e agridoce clímax do filme, onde apesar da tragédia irreparável, fator esse fora do controle dos envolvidos, são as lembranças de uma história de amor e de um alguém eterno, que, como a própria Rose afrma, vive agora somente em sua memória, que estão destinados a perdurar acima de tudo- incluindo um tesouro por anos escondido que vem a se tornar a obsessão dos exploradores a quem somos apresentados no início do filme. No final, dado esse contexto, é Jack Dawson quem nos dá a maior lição de Titanic: “Nuca se sabe o que irá acontecer. É preciso aceitar o que vier, fazer cada dia valer a pena.”
Em síntese, não será nenhuma surpresa se Titanic faturar uma quantidade significativa de dinheiro em mais um de seus relançamentos. Essa é, no final das contas, a força de uma história destinada a ser lembrada por décadas e mais décadas por vir, sendo sempre prazeroso, apesar do lado trágico, embarcar no RMS Titanic de James Cameron e cia. e se maravilhar com sua perfeição técnica, com um romance emocionante e com a plenitude de uma experiência cinematográfica irretocável.
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