Crítica – ‘Ferrari’ é retrato brutal de Michael Mann sobre os fantasmas e obsessões do homem por trás da lenda.

Crítica – ‘Ferrari’ é retrato brutal de Michael Mann sobre os fantasmas e obsessões do homem por trás da lenda.

Ferrari’ não é um filme meramente sobre carros ou sobre corridas. Dirigido pelo norte-americano Michael Mann, aclamado por obras como ‘Profissão: Ladrão’ (1981) e ‘Fogo Contra Fogo’ (1995), o longa conta a história de Enzo Ferrari (Adam Driver) com recorte no período de tempo em que a Ferrari, companhia fundada por Enzo ao lado de sua esposa Laura (Penélope Cruz), enfrentava uma grave crise financeira- o que levaria o empresário a jogar todas as suas cartas numa corrida automobilística de longa distância pela Itália: a Mille Miglia.

Baseado no livro ‘Ferrari: O Homem por trás das Máquinas’, de Brock Yates, o retrato dessa figura histórica promovido por Mann e pelo roteirista Troy Kennedy Martin (falecido em 2009), aqui, é bastante plural. Abordando abrangentemente os fantasmas, as fragilidades e a frieza do homem por trás da lenda, Ferrari, no filme, é um sujeito dividido entre a obsessão pela alta velocidade e uma vida pessoal conturbada. Quanto a isso, um dos grandes cernes dessa narrativa é a sua espécie de vida dupla (com ambas demarcadas por conflitos), onde em paralelo ao casamento com Laura, Enzo também vive um romance com Lina (Shailene Woodley), uma mulher que conheceu no período da Segunda Guerra Mundial e com quem acabou tendo um filho.

Assim, no decorrer da projeção são momentos específicos dramaticamente carregados que ilustram esse lado da cinebiografia. De frieza marcante para lidar com a morte de um de seus pilotos, alguns dos fantasmas de Ferrari se revelam no melancólico fragmento em que o protagonista visita o túmulo do falecido filho que teve com Laura- um dos grandes ressentimentos do casal. Já a sua obsessão é ilustrada numa tensa sequência em que a montagem intercala os testes de uma rival da Ferrari com o personagem de Adam Driver cronometrando os acontecimentos enquanto acompanha, em paralelo, uma missa. Mais a frente, belíssimos flashbacks, dessa vez intercalados com cenas de Driver presente em uma ópera, colocam em xeque um lado mais frágil e até mais humano do empresário, revelando a verdadeira natureza por trás de algumas de suas escolhas.

A direção de Michael Mann faz com que o retrato passeie, então, do tenso ao melancólico. Entretanto, é o lado brutal que se sobressai. As atuações são intensas, principalmente as da dupla Adam Driver e Penélope Cruz, perfeitos em trejeitos e emoções à flor da pele quando necessário. Mas esse lado da encenação tem um destaque ainda maior quando o assunto são as cenas de velocidade em si- talvez um escape para a figura central da história.

Nelas, o som dos motores é brusco e cru, enquanto o cineasta alterna entre pontos de vista subjetivos e objetivos, com sua câmera tremida que as vezes está mais próxima da ação ou mais distante em belos planos gerais. O diretor também não enconomiza de artifícios de linguagem mais específicos para torná-las ainda mais impactantes, como é o caso do uso da câmera lenta nas batidas e acidentes e do Dolly Zoom (ou efeito ‘Vertigo’) para retratar o ponto de vista dos carros e dos pilotos em certos momentos.

No final das contas, ‘Ferrari’ é esse relato de Michael Mann que compreende espetáculo e drama na medida certa. E apesar de soar impiedoso em algumas horas, ele também é encantador por mostrar um diretor consciente e certeiro dos artíficios que escolhe para explorar a história de um mito e suas complexidades. Nada é gratuito. Tudo é intenso como um carro concebido para atingir altas velocidades.

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