POR QUE VOCÊ PRECISA LER O QUADRINHO E ASSISTIR A SÉRIE DE WATCHMEN?

POR QUE VOCÊ PRECISA LER O QUADRINHO E ASSISTIR A SÉRIE DE WATCHMEN?

No próximo domingo, dia 20, serão entregues os prêmios Emmy, o Oscar da televisão. Dentre as séries e minisséries indicadas nas mais diversas categorias está a líder delas: Watchmen. O programa conta com 26 indicações, incluindo uma das principais categorias da noite: Melhor Minissérie. Produzida pela HBO, o programa que teve Damon Lindelof como showrunner (um velho conhecido da emissora, tendo em vista seu trabalho pregresso na série The Leftovers) foi um dos maiores destaques da televisão no ano de 2019.

Além de uma série de qualidade técnica excepcional, Watchmen fez jus ao nome e ao legado artístico e cultural que esse nome carrega consigo por mais de três décadas. As artes ao longo do tempo sempre refletiram a realidade a qual estavam inseridas. Seja na literatura, na música ou no cinema, os acontecimentos que rodeavam a humanidade sempre foram e são peça chave de produtos artísticos. Esse é e sempre foi o caso de Watchmen.

Capa da primeira edição do quadrinho de Watchmen.

Dentre os exemplos de artes citados anteriormente, uma foi deixada de fora: Os Quadrinhos. Os chamados de Nona Arte sofreram (e, infelizmente, sofrem até hoje) com o estereótipo de serem algo destinado somente para crianças. Porém, nos anos 80 algumas obras vieram com o intuito de mudar um pouco esse paradigma. Entre elas estava Watchmen, publicada entre 1986 e 1987 pela DC Comics. Escrita pelo lendário autor de quadrinhos Alan Moore e ilustrada pelo talentoso Dave Gibbons, a obra (junto de MAUS, de Art Spiegelman, e Batman: O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller) foi um marco que deu início a uma nova era para a indústria dos quadrinhos. Se antes eles eram tidos para a maioria como produto estritamente infantil, agora os quadrinhos provavam o quão adultos podiam ser, abordando questões e temas mais “sérios”, sendo veículo para críticas sociais e, como dito, reflexão de seu tempo.

Alan Moore (esq) e Dave Gibbons (dir).

No caso do quadrinho Watchmen, somos inseridos em uma realidade alternativa onde os super-heróis existem e são pessoas reais sem poderes (exceto por um deles, o Doutor Manhattan). A história se passa nos Estados Unidos (nessa realidade alternativa o país saiu vitorioso da Guerra do Vietnã) na década de 80. A Guerra Fria está no seu auge e o mundo vive a beira de um conflito nuclear capaz de levá-lo a destruição em massa. Além disso, os super-heróis foram obrigados a se registrarem para servirem como agentes governamentais. Nesse contexto, a trama se desenrola a partir do assassinato de um dos principais heróis desse universo e da subsequente investigação de quem estaria por trás dele. Assim, somos levados ao bombástico e monstruoso (literalmente) acontecimento e revelação final da história.

O grupo de heróis nomeado Watchmen.

Recheada de críticas sociais, questões éticas e morais e abordando um tema que na época de sua realização era o de maior relevância no cenário sócio-político- a questão das armas nucleares e a Guerra Fria no contexto global, Watchmen é considerado por muitos estudiosos no assunto como o melhor quadrinho de todos os tempos. Uma obra atemporal que, mesmo hoje, mais de 30 anos depois, ainda é capaz de refletir um pouco do que vivemos atualmente.

Porém, é quando se trata de refletir em peso sobre a nossa contemporaneidade que chegamos a minissérie de 2019 da HBO baseada na obra de Moore e Gibbons. Se o quadrinho de Watchmen refletiu as tensões políticas e sociais dos anos 80, é isso que faz a minissérie de Damon Lindelof em relação ao que a nossa sociedade vive hoje em dia.

Com um elenco composto por estrelas como a sensacional Regina King e o veterano Jeremy Irons, a série funciona como uma espécie de continuação da obra original nos dias de hoje, sendo ela ambientada justamente em 2019. Na trama, acompanhamos a história de uma misteriosa organização supremacista branca e de policiais e novos vigilantes investigando uma conspiração em que ela estaria por trás.

O grupo supremascista Sétima Cavalaria. Na série eles se inspiram nos ideais do herói Rorschach (por isso utilizam sua máscara), que aqui foram mal interpretados pelo grupo, uma das boas sacadas da série.

Ao decorrer do programa, somos envolvidos por uma história que fala sobre a brutalidade policial, o racismo e ideais extremistas como um todo voltando a tona no cenário político. Refletindo a respeito desses problemas que, como temos observado ao longo dos últimos meses/anos, não poderiam nos ser mais atuais e recorrentes, Damon Lindelof consegue fazer uma obra que ao mesmo tempo inova em relação a original, mas consegue manter a sua essência, honrando seu nome e legado com a proposta de refletir a realidade de seu tempo.

Dessa forma, Watchmen, aqui referindo-se ao quadrinho e a série de televisão, são duas obras que se tornam essenciais. Em seu devido tempo e contexto, elas serviram como exemplar perfeito de peças artísticas que conseguiram dialogar com o mundo em que vivíamos e vivemos. Sendo assim, não será uma surpresa se domingo a série de Lindelof e cia for uma das mais vitoriosas do Emmy 2020. Fortalecendo assim cada vez mais o legado que ela carrega de uma das maiores obras que os mestres Alan Moore e Dave Gibbons proporcionaram para a Cultura Pop e para as artes em geral.

Leia Watchmen. Assista Watchmen. O relógio do juízo final indica: Os tempos estão mudando.


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